Joan Faus.
La Paz (Argentina), 20 mar (EFE).- As descobertas realizadas por
Charles Darwin e Alcide d'Orbigny durante suas viagens pelo rio
Paraná no século XIX não perderam a validade para a ciência e muito
menos para os territórios argentinos que visitaram.
Nas viagens pelo leito argentino do rio Paraná, Darwin e
D'Orbigny catalogaram várias espécies de animais, melhoraram as
descrições geográficas e investigaram as formações geológicas dos
terrenos vizinhos.
"Darwin e D'Orbigny apresentaram descrições sobre a diversidade
animal e a história geológica do território que seguem sendo usadas
até hoje", explicou a pesquisadora Susana García à Agência.
Susana é membro do Centro Nacional de Pesquisas Científicas e
Tecnológicas da Argentina e integrante da expedição Paraná Ra'anga,
que percorre os rios La Plata, Paraná e Paraguai.
O francês D'Orbigny (1802-1857) começou a percorrer a Argentina
em 1828 em uma viagem que o levou do extremo sul da Patagônia até o
norte do país, onde chegou pelos rios La Plata e Paraná.
Seguindo os passos dele, o britânico Charles Darwin (1809-1882)
chegou à Argentina em 1832 a bordo do "Beagle", o mítico navio em
que percorreu a América do Sul e teceu as bases da teoria da
evolução.
Durante as explorações, os dois competiram sobre a origem das
formações geológicas do Pampa, região central da Argentina.
Muitas das pesquisas geológicas de Darwin e D'Orbigny foram
baseadas no estudo das chamadas barrancas do Paraná, precipícios
rochosos vizinhos ao rio entre as cidades argentinas de Santa Fé e
Corrientes.
Segundo García, para D'Orbigny o Pampa argentino é produto de uma
"catástrofe de enorme magnitude" que gerou a "sedimentação de uma
grande quantidade de lodo" sobre a extensão do Pampa quando ainda
estava submerso.
Darwin, no entanto, considerava que a origem do local tinha
relação com "movimentos muito lentos de ascensão e descenso da
crosta geológica", já que as barrancas tinham linhas horizontais de
diversas cores.
Apesar disso, os dois pesquisadores concordavam sobre os métodos
de catalogação das espécies a partir de moluscos vivos e mamíferos
fósseis que encontraram na Argentina.
Desde 1828, D'Orbigny percorreu, por terra, o centro e o sul do
país e, em uma pequena embarcação, o trajeto entre Buenos Aires e a
província de Misiones (norte) navegando pelos rios La Plata e
Paraná.
O francês realizou grande parte de sua viagem em um veleiro no
qual captou os sons dos animais relatados em suas crônicas, explicou
García.
Darwin, por sua vez, começou a viagem pelo país em setembro de
1832, acompanhando as expedições hidrográficas do "Beagle" pelas
costas da Patagônia, da Terra do Fogo e das Ilhas Malvinas, onde
recolheu fósseis de mamíferos extintos.
Em agosto de 1833 iniciou o percurso por terra da Patagônia até
Buenos Aires, cruzando os terrenos da região do Pampa.
Da capital ele seguiu para Santa Fé, 480 quilômetros ao norte,
onde tomou um navio para retornar ao rio Paraná. Depois, Darwin
voltou a Buenos Aires e partiu para Montevidéu (Uruguai), onde
embarcou no "Beagle" com destino, novamente, à Patagônia, para
depois explorar a costa ocidental da América do Sul.
O legado de Darwin e D'Orbigny é fundamental para conhecer a
riqueza biológica dos rios que envolvem a Argentina e o Paraguai, um
dos objetivos da expedição fluvial de que García participa.
Organizada pela Agência Espanhola de Cooperação e pelos centros
culturais de Rosário e Assunção, a Paraná-R'anga conta com uma
tripulação de 70 artistas, intelectuais e pesquisadores de Espanha,
Argentina e Paraguai e pretende reivindicar o rio como patrimônio
cultural. EFE