Teresa Bouza.
Washington, 27 abr (EFE).- O presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano), Ben Bernanke, sugeriu nesta quarta-feira que não haverá alta da taxa de juros pelo menos até setembro, em declarações feitas em entrevista coletiva inédita, o que inaugura uma era de maior transparência da entidade.
O titular do banco central americano respondeu a perguntas da imprensa durante cerca de uma hora, em um discurso no qual se mostrou visivelmente nervoso, durante o qual chegou a tremer ligeiramente a voz em mais de uma ocasião.
Seu encontro com a imprensa ocorreu pouco depois de o Comitê de Mercado Aberto do Fed (Fomc) - painel máximo de formulação de política monetária - manter as taxas de juros em níveis próximos a zero.
Além disso, o Fed rebaixou nesta quarta-feira as perspectivas de crescimento dos EUA para este ano, agora entre 3,1% e 3,3%, abaixo do estimado em janeiro, quando previu que o Produto Interno Bruto (PIB) do país seria de 3,9% neste ano.
O desemprego, segundo o Fed, ficará entre 8,4% e 8,7%, melhor que o previsto em janeiro e a inflação ficará entre 2,1% e 2,8%, um registro pior que o estimado há três meses.
Com esses dados sobre a mesa, a autoridade monetária americana previu nesta quarta-feira que as taxas de juros continuarão em níveis historicamente baixos durante um "longo período" de tempo.
Diante da pergunta sobre o significado exato dessa afirmação, Bernanke disse não sabê-lo "exatamente", mas apontou que um "longo período sugere que provavelmente serão necessárias ainda pelo menos duas reuniões antes de haver ação".
O próximo encontro do organismo ocorrerá em meados de junho e o seguinte no início de agosto. Assim, o Fed não agiria antes de 20 de setembro.
O discurso de Bernanke foi acompanhado de perto pelas bolsas de valores, que reagiram positivamente a suas palavras. O Dow Jones Industrial subiu 0,76% e fechou no nível mais alto desde 2008, aos 12.690,96.
Bernanke falou também sobre o elevado déficit fiscal dos EUA, que descreveu como o principal problema econômico do país e o classificou de "importância primordial" para os líderes políticos.
"O déficit fiscal não é sustentável", destacou o presidente do Fed, que disse ter esperança de que a decisão da agência de classificação de risco Standard & Poor's de revisar para baixo as perspectivas da dívida americana seja um incentivo para se concentrar no assunto.
Ele assinalou que a falta de ação teria "consequências significativas" para os padrões de vida e a estabilidade econômica dos Estados Unidos.
Além disso, Bernanke qualificou de "promissor" o fato de que tanto republicanos como democratas tenham dado provas de querer resolver o problema, mas indicou que resta um "longo caminho" pela frente antes de se solucionar o atual desequilíbrio orçamentário.
"É de importância primordial que nossos líderes políticos lidem com este assunto", assinalou Bernanke.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que o déficit americano ronde 11% do PIB neste ano, nível mais alto de todas as economias avançadas.
O titular do Fed garantiu que o banco central fará o máximo possível para criar as condições necessárias para um dólar forte, algo que, segundo ele, convém tanto aos EUA como ao resto do mundo.
"O Federal Reserve acredita que um dólar forte e estável está de acordo tanto com os interesses dos EUA quanto os da economia global", exclamou.
"Em nossa opinião, se fizermos o que é necessário para conseguir nosso duplo mandato de estabilidade de preços e emprego máximo, isso também criará os fundamentos econômicos que ajudarão o dólar a médio prazo", afirmou Bernanke.
Ao longo desta quarta-feira, a moeda americana atingiu a cotação mais alta dos últimos três anos em relação às principais divisas do mundo, perante a persistente política de taxas de juros próximos a zero do banco central americano. EFE