César Muñoz Acebes.
Washington, 14 jan (EFE).- O diretor-gerente do Fundo Monetário
Internacional (FMI), o francês Dominique Strauss-Kahn, além de pedir
que os Governos invistam mais na geração de empregos, destacou hoje
que a recuperação da economia ainda é frágil, por isso o apoio
público ainda é necessário.
Em entrevista coletiva, Strauss-Kahn pediu que a comunidade
internacional "não se deixe enganar pelos números do crescimento
mundial", já que, segundo disse, eles estão inflados por diversos
programas de estímulo.
A recuperação é "mais forte" que há alguns meses, mas continua
frágil, afirmou.
Apesar da ansiedade de alguns Governos em relação ao aumento do
déficit e da dívida pública, o diretor-gerente do FMI disse que as
medidas públicas de apoio à economia devem ser mantidas até que haja
"sinais claros" do aumento da demanda privada.
Strauss-Kahn também antecipou que, em virtude da melhora dos
dados dos últimos meses, o órgão revisou para cima suas previsões a
respeito do crescimento mundial, embora não tenha apresentado
números específicos.
Ainda assim, frisou, a recuperação será "lenta" nos países
desenvolvidos, particularmente na Europa, devido à rigidez destas
economias.
A volta do crescimento não quer dizer que já seja possível falar
do fim da crise, uma vez que esta só poderá dar-se como superada
quando o desemprego cair, advertiu.
Neste âmbito, o mundo ainda terá alguns meses difíceis pela
frente, já que o desemprego pode subir ainda mais nos Estados Unidos
e na Europa. "O pior ainda pode estar por vir", acrescentou o
francês.
Tanto nos EUA como no velho continente o desemprego atinge 10% da
população, de modo que Strauss-Kahn pediu a estes Governos que
desviem parte do dinheiro dos programas de estímulo à geração de
emprego.
Isso é exatamente o que anunciou em dezembro o presidente dos
EUA, Barack Obama, que aproveitará sobras do programa de resgate
financeiro para investir em novos projetos que criem emprego.
Strauss-Kahn também deu seu apoio ao projeto anunciado hoje por
Obama, que quer impor uma taxa extra sobre as grandes instituições
financeiras americanas, com o intuito de recuperar o dinheiro gasto
no resgate às empresas de Wall Street.
"Realmente, comemoro esta proposta dos EUA", disse o ex-ministro
francês. "É um bom sinal dos EUA para o resto do mundo", acrescentou
o diretor do FMI, segundo quem esta é a primeira proposta deste tipo
no mundo.
O programa da Casa Branca poderia dar força a uma ideia parecida
sugerida na cúpula do Grupo dos Vinte (G20, que reúne os países mais
ricos e os principais emergentes) realizada em Pittsburgh, a qual é
estuda atualmente pelo FMI.
Segundo esta proposta, as grandes entidades financeiras
contribuiriam para um fundo novo que pagaria por seu resgate em
momentos de crise, ao invés de este custo recair exclusivamente
sobre os contribuintes.
Outro exigência do G20 feita ao FMI foi o alcance de um acordo
para a transferência de "pelo menos" 5% do poder de voto em mãos dos
países desenvolvidos às nações em desenvolvimento "dinâmicas".
"Não tenho dúvida de que, até o fim do ano, essa mudança
acontecerá", afirmou Strauss-Kahn, que não deu mais detalhes a
respeito.
O FMI também está imerso no debate sobre a reforma do sistema
financeiro internacional. Sobre ela, o francês pediu que não se
perca o ímpeto para a adoção de mudanças que impeçam uma crise como
a atual.
"O próprio setor financeiro voltou a funcionar como se nada
tivesse acontecido", reclamou o chefe do FMI, que disse que é
preciso adotar regras "mais duras e inteligentes".
Na entrevista coletiva, Strauss-Kahn não fugiu de uma pergunta
que o persegue há vários meses: aquela sobre se o dólar deixará de
ser a divisa mundial de reserva.
O diretor do órgão multilateral de crédito afirmou que, dada a
recuperação econômica dos EUA, não acha que, a curto prazo, o dólar
perderá seu papel atual. EFE