Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - Diante do cenário de recessão, desemprego e inflação elevada, o Banco Central passou a ver retração de 1 por cento no estoque de crédito livre no país em 2016 que, se confirmado, será o primeiro resultado negativo da série histórica iniciada em março de 2007.
Até então, o BC calculava que haveria expansão de 2 por cento nesta modalidade, depois de ter crescido 3,88 por cento no ano passado. A expansão do estoque de crédito livre --que tem direcionamento livre pelas instituições financeiras-- chegou ao auge em 2008, quando saltou mais de 30 por cento.
Em projeções divulgadas nesta segunda-feira, o BC também ajustou sua perspectiva para o crédito direcionado, enxergando crescimento de 3 por cento no ano, contra 7 por cento antes.
Com isso, a previsão para a expansão do estoque total de crédito no país foi reduzida a apenas 1 por cento em 2016, contra 5 por cento antes. Se confirmado, também será o pior desempenho histórico.
Em coletiva de imprensa, o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, atribuiu a drástica revisão ao baixo dinamismo da economia e ao frágil desempenho do crédito nos primeiros cinco meses de 2016.
No acumulado do ano até maio, o estoque total de crédito sofreu queda de 2,3 por cento, com desempenhos negativos de janeiro a abril. Em maio, houve interrupção dessa sequência, mas com crescimento modesto, de apenas 0,1 por cento sobre o mês anterior, a 3,145 trilhões de reais, equivalentes a 52,4 por cento do PIB.
Nesta segunda, o BC calculou que essa relação encerrará o ano em 52 por cento do PIB, sobre previsão anterior de 54 por cento.
A autoridade monetária também cortou suas estimativas para a expansão do estoque pelo critério de instituições bancárias. Agora, prevê que a alta em bancos públicos será de 4 por cento, contra 8 por cento anteriormente. Nos bancos privados nacionais, o estoque deverá cair 4 por cento, ante recuo de 1 por cento antes. Já nos privados estrangeiros, a expansão deverá ser de 1 por cento, contra 4 por cento.
MAIO
O BC informou ainda que a inadimplência no país no segmento de recursos livres subiu a 5,9 por cento em maio, contra 5,7 por cento em abril, renovando mais uma vez o patamar mais alto da série histórica, iniciada em março de 2011.
O spread bancário --diferença entre o custo de captação e a taxa cobrada pelos bancos ao consumidor final-- também subiu em maio, a 39,7 pontos percentuais, sobre 38,9 pontos em abril, também maior patamar da série.
No mesmo segmento, em que as taxas são livremente definidas pelas instituições financeiras, os juros médios foram a 52,3 por cento ao ano, novo recorde histórico, contra 52,1 por cento por cento no mês anterior.