Andrés Mourenza.
Istambul, 30 jan (EFE).- Um filme de ação turco carregado de mensagens contra Israel abalou ainda mais as relações desse país com a Turquia e gerou polêmica na Europa, onde as autoridades alemãs chegaram a proibir sua estreia, que coincidiu com o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.
"O Vale dos Lobos: Palestina" narra as aventuras de um comando turco liderado pelo agente Polat Alemdar, decidido a assassinar o comandante israelense Moshe Ben-Eliezer, envolvido no ataque à Flotilha da Liberdade, formada por embarcações que tinham como objetivo levar ajuda humanitária à Faixa de Gaza.
Tal incidente ocorreu na realidade no dia 31 de maio e culminou com a morte de oito cidadãos da Turquia e um americano de origem turca, o que causou um abalo sem precedentes nas relações diplomáticas entre Turquia e Israel, ambos aliados dos Estados Unidos.
No domingo passado, dia 23 de janeiro, as autoridades israelenses emitiram um relatório sobre o fato, no qual justificam a atuação dos soldados.
No longa, os agentes turcos não levaram nem cinco minutos de filme para reagir a tiros contra os israelenses.
Em um controle militar, um soldado israelense impede a passagem de Alemdar e seus homens, questionando sobre sua visita a Israel. "Eu não vim a Israel, vim à Palestina", responde o 'James Bond turco".
É então que o tiroteio começa, chamando a atenção para a tônica da produção: 300 palestinos e israelenses mortos em um roteiro simplista e com pobre atuação, mas com direção visual atrativa e bons efeitos especiais.
Não é a primeira vez que a produtora PanaFilm copia o estilo de Hollywood, em uma versão 'vulgarmente' ideológica. Em 2006, "O Vale dos Lobos: Iraque" semeou polêmica ao caracterizar as forças americanas no Iraque como os vilões.
Dessa vez são os israelenses - liderados por Ben-Eliezer - uma encarnação do mal, capaz de ordenar a sangue frio que uma escavadeira achate sob os escombros uma criança inválida.
Em declarações à agência de notícias "Anadolu", o embaixador israelense na Turquia, Gaby Levy, qualificou o filme de "difamatório", alegando que contém "certos enfoques antissemitas".
"Não há antissemitismo neste filme", defende Necati Sasmaz, o ator que interpreta Alemdar. Ele argumenta que o filme apenas pretende "refletir o sofrimento dos palestinos".
Um dos pontos mais delicados da questão é que sua estreia na Alemanha foi realizada na quinta-feira, coincidindo com o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Isso levou a proibição do filme por um órgão de fiscalização cinematográfica. "A questão é que na Alemanha os filmes estreiam nas quintas-feiras, não tem nada a ver com o Holocausto", alegou PanaFilm.
A equipe do filme denunciou ter sido submetida a "censura" e o conflito se resolveu quando as autoridades alemãs permitiram sua exibição somente para maiores de 18 anos.
"O que ocorre é que preferem assistir aos muçulmanos como terroristas, e não produzindo e dirigindo filmes", denunciou Bahadir Özdenerm, um dos roteiristas, em declarações à Agência Efe.
O único personagem judeu 'do bem' na história é Simone, uma judia americana que, após conviver com os palestinos, acusa os israelenses de serem tão cruéis quanto os nazistas foram na Segunda Guerra Mundial.
O certo é que a polêmica está ajudando a distribuição do filme. Já estreou na Alemanha, Bélgica, Suíça, Áustria, Holanda e Inglaterra, e em fevereiro será lançado no Oriente Médio. A produtora ainda negocia com a Espanha, informou PanaFilm à Efe. Na Turquia, entrou em cartaz na sexta-feira e as salas ficaram lotadas.
"Provavelmente isso não ajuda a reparar as relações turco-israelenses, mas não podemos impedir uma empresa de produzir seus filmes livremente", assegurou um alto funcionário do Ministério de Assuntos Exteriores da Turquia, segundo a imprensa local. EFE