Maricel Seeger.
Buenos Aires, 4 ago (EFE).- A militância da presidente argentina, Cristina Fernández de Kirchner, seus últimos momentos com seu marido e antecessor, Néstor Kirchner, e a intimidade familiar compõem uma nova biografia autorizada da governante que lidera as vendas no país em plena campanha eleitoral.
A autora de "La presidenta: Historia de una vida" ("A Presidenta: História de Uma Vida", na tradução literal), a jornalista Sandra Russo, tenta desnudar o lado humano da chefe de Estado, quando faltam apenas dez dias para as eleições primárias que definirão os candidatos presidenciais do pleito do dia 23 de outubro, no qual Cristina tentará a reeleição.
Baseado em quatro encontros com a presidente - que não concede entrevistas à imprensa- e testemunhos de pessoas próximas, o livro percorre a infância da governante e conta como ela herdou a militância pelo peronismo de seu avô, apesar de ter um pai contrário às ideias do ex-presidente Juan Domingo Perón.
Repleto de elogios à chefe do Estado, o texto também relata seus anos de escola e universidade, o momento em que conheceu Nestor Kirchner, falecido no dia 27 de outubro de 2010, e as "brigas memoráveis" entre os dois desde o primeiro dia que o conheceu.
"Nós não éramos afeitos a demonstrações públicas de carinho. (...) Quando eu me irritava, não falava com ele. Era o pior que podia fazer. Cheguei a ficar um dia inteiro sem lhe dirigir a palavra", afirmou Cristina para o livro de 320 páginas que tem a presidente vestida de negro com a mão na altura do coração na imagem da capa.
A biografia, lançada esta semana, escalou rapidamente ao primeiro posto de vendas, segundo dados do Grupo Ilhsa, proprietário de uma cadeia de livrarias, no momento em que a atual presidente aparece como favorita nas pesquisas de intenções de voto.
A governante foi tema de outra biografia autorizada, "Reina Cristina" ("Rainha Cristina", na tradução literal), publicada pela jornalista Olga Wornat em 2005, ano no qual ela concorreu nas eleições legislativas.
Desta vez, Sandra Russo, funcionária da televisão estatal, admitiu que o livro sofreu uma reviravolta com a morte do ex-presidente Kirchner e até correu o risco de não ser lançado. No entanto, a jornalista conseguiu entrevistar Cristina em El Calafate, na Patagônia, na casa onde Kirchner morreu.
"Ele morreu aqui comigo, na cama. Me resta o consolo que tenha sido aqui. Não teria suportado se ele tivesse morrido em Olivos (a residência presidencial em Buenos Aires). Ele odiava Olivos", contou a chefe de Estado para o livro da editora Sudamericana.
Cristina também revelou que "nunca" quis ser candidata, "nem para presidente, nem para senadora nem para deputada" (seus cargos anteriores), e que precisou sempre ser convencida.
A presidente argentina, advogada de profissão, disse também que durante 2008, em pleno conflito com o setor agrário pela pretensão do Governo de modificar o sistema tributário para as exportações, quiseram destituí-la.
"Não tenho nenhuma dúvida. Não queriam que eu fosse candidata. Especialmente o Grupo Clarín", maior conglomerado de comunicação do país e crítico ferrenho da Administração de Cristina.
A chefe de Estado também lembrou os anos da ditadura (1976-1983) nos quais ela e Kirchner se mudaram para Santa Cruz, terra natal do ex-presidente, sua oposição à "militarização da política" e o crescimento de ambos como funcionários até a ascensão de seu marido como presidente.
"A pessoa mais próxima de mim agora é meu filho (Máximo), mas é totalmente diferente, é outra idade, outras vivências, temos uma relação de mãe e filho. O que tive com Néstor foi incrível", destacou. EFE