Por Walter Brandimarte
SÃO PAULO (Reuters) - A Standard & Poor's alertou nesta terça-feira que o Brasil pode perder o grau de investimento ao longo do próximo ano se os resultados das investigações de corrupção pesarem mais sobre o crescimento econômico e se a implementação de medidas de austeridade fiscal "sofrer novo deslize".
A agência de risco afirmou classificação de crédito do Brasil de longo prazo em moeda estrangeira em "BBB-", o nível mais baixo do grau de investimento, mas revisou para "negativa" a perspectiva da nota, ante "estável", sinalizando que um rebaixamento é possível nos próximos 12 a 18 meses. A S&P também manteve o rating do país em moeda local em "BBB+".
"Reconsideramos a perspectiva dos ratings do Brasil de modo a refletir nossa avaliação de que a probabilidade de a correção de política sofrer novo deslize seja maior que uma entre três, dado o contexto das dinâmicas políticas e de que o retorno a uma trajetória de crescimento mais firme será um processo mais longo do que o esperado", disse a analista da S&P Lisa Schineller.
A decisão da S&P representa um revés para os esforços do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de reconquistar a confiança do investidor no país, que enfrenta a recessão.
Para o economista-chefe do banco J.Safra, Carlos Kawall, as agências Moody's e Fitch --que atribuem rating ao Brasil no segundo degrau da escala de grau de investimento-- devem cortar a nota do país e colocá-la em perspectiva negativa em breve.
"Todas chegarão no mesmo nível que a S&P está. Temos seis meses. Se não houver sinalização clara para reverter essa deterioração, podemos ver no início do ano que vem a perda do grau de investimento", afirmou Kawall.
O ministro da Fazenda tem tentado proteger o grau de investimento do Brasil com cortes de gastos, reduções de desonerações e aumentos de impostos, com o objetivo de conter o déficit fiscal que aumentou durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff.
Na semana passada, porém, o governo reduziu suas metas de superávit primário --a economia feita para o pagamento de juros da dívida pública--, diante de uma arrecadação bastante aquém do previsto devido à fraqueza da economia.
Para 2015, a meta foi diminuída de 1,1 para 0,15 por cento do Produto Interno Bruto (PIB). Além disso, o governo terá a prerrogativa de fazer um abatimento da meta, o que na prática poderá significar um déficit fiscal neste ano.
Para 2016 e 2017, a meta de superávit primário caiu para 0,7 e 1,3 por cento do PIB, respectivamente, contra objetivo anterior de 2 por cento nos dois próximos anos.
Ao reduzir as metas fiscais, o governo também traçou uma trajetória pra a dívida pública do país que não convenceu o mercado e especialisats de modo geral. Passou a prever que a relação dívida bruta/PIB --importante indicador monitorado pelas agências de classificação de risco-- fechará este ano a 64,7 por cento, indo a 66,4 por cento em 2016 e 66,3 por cento em 2017. Para 2018, a vê em 65,6 por cento.
No geral, o mercado acredita qeu a dívida pública vai ultrapassar o patamar de 70 por cento devido às condições econômicas brasileiras antes que comece a estabilizar.
"O futuro da nota do Brasil tem muito a ver com a questão do endividamento do país. O governo trabalha com estabilização a partir de 2017. O que o mercado questiona é como o governo vai chegar a esse ponto, como o Brasil vai mostrar para as agências que vai estabilizar a dívida", disse o analista Bruno Gonçalves, da Alpes Corretora.
(Reportagem adicional de Flavia Bohone e Bruno Federowski)