SÃO PAULO (Reuters) - As distribuidoras de energia do grupo norte-americano AES no Brasil, Eletropaulo e AES Sul, não participarão do leilão A-5 agendado para sexta-feira porque já enfrentam sobras de eletricidade contratada devido à crise, que tem reduzido fortemente o consumo, afirmou a jornalistas nesta quinta-feira o presidente da AES Brasil, Julian Nebreda.
Segundo ele, a AES Eletropaulo deverá ver neste ano uma queda de cerca de 5 por cento no consumo em sua área de concessão, nível semelhante à retração de 4,7 por cento observada em 2015.
Nesse cenário, a distribuidora, que atende a região metropolitana de São Paulo, tem atualmente contratos de compra de energia equivalentes a 112 por cento da demanda dos consumidores, o que gera riscos de pesadas perdas financeiras.
Pelas regras do setor, a parte das sobras que ultrapassa 105 por cento é vendida pelo preço spot, ou PLD, o que geraria perdas devido ao atual cenário de preços baixos nesse mercado, devido à recessão.
"A queda (na demanda) de energia foi muito maior que o esperado... é um tema urgente... quase todas distribuidoras estão sobrecontratadas", disse Nebreda, que participou de coletiva de imprensa da AES Brasil em São Paulo.
O executivo, que é venezuelano e assumiu o comando da AES Brasil neste mês, disse que as sobras de energia têm sido alvo de negociações entre as concessionárias, governo e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
"O sistema (regulatório) que temos não está desenhado para administrar quedas (de mercado)... é preciso flexibilizar o mercado", disse o executivo.
O presidente da AES Brasil disse ainda que a geradora de energia do grupo, a AES Tietê (SA:TIET4), também não participará do leilão A-5, que contratará usinas para geração a partir de 2021.
"Não estamos participando, nem para vender e nem para comprar", afirmou Nebreda.
MUDANÇA NO PREÇO
O presidente da AES Brasil afirmou também que acredita que é necessário rever o cálculo do Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), utilizado no mercado spot de eletricidade e na definição do acionamento de usinas termelétricas no sistema.
"É importante revisar o modelo de preço para aumentar o nível de confiabilidade do sistema... ter uma visão mais conservadora (nos cálculos) para ter um mercado mais estável, com menos volatilidade", explicou.
O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), formado por autoridades federais do setor, decidiu recentemente encomendar um estudo sobre os parâmetros de cálculo do PLD.
Segundo especialistas, a revisão poderá resultar em preços maiores, o que favoreceria as distribuidoras, que vendem as sobras de energia pelo PLD.
Nebreda ressaltou que essa discussão é "um tema à parte" frente à sobrecontratação das distribuidoras e que exige estudos técnicos profundos. "Não é um tema para hoje".
(Por Luciano Costa)