Seul, 28 jun (EFE).- O futebol, um esporte que até recentemente
não conseguia concorrer com o beisebol na Coreia do Sul, se
consolidou como um mercado para todos os tipos de empresas que
almejam lucros bilionários, além de ter se tornado o maior fenômeno
de massas do país, devido à Copa do Mundo.
Ao conquistar uma vaga nas oitavas de final, o país asiático se
rendeu a uma "euforia futebolística" que, segundo o Instituto de
Pesquisas da Hyundai, prevê um volume de vendas estimado em 1,8
trilhões de wons (cerca de R$ 2,6 bilhões) no mercado.
As ações promocionais relacionadas à Copa já não escapam a quase
nenhum produto; desde as obrigatórias camisetas vermelhas dos
"diabos vermelhos", usada por todo torcedor sul-coreano nos últimos
dias, até promoções do banco Hana, que oferecia juros mais baixos se
os "guerreiros do Taeguk" repetissem o feito histórico da Copa de
2002, quando chegaram às semifinais depois de ganhar da Espanha.
Os sul-coreanos começaram a se interessar por futebol depois de
sediar com o Japão o Mundial de oito anos atrás, quando tinham como
técnico o holandês Guus Hiddink. Ele comandou a seleção do país na
façanha de 2002 e agora licencia sua imagem para anúncios de
pizzarias ou seguros de vida na Coreia do Sul.
"Antes de 2002, o futebol não era um esporte importante, mas
agora, sobretudo nesta Copa, está sendo provado que é o (esporte)
que mais mobiliza pessoas", disse Lee Sang-Rok, um dos
redatores-chefe do jornal "Dong-a Ilbo", à Agência Efe.
Em 2010, o lado comercial do futebol na Coreia do Sul amadureceu,
e a própria televisão SBS, emissora que detém exclusividade das
transmissões da Copa na África do Sul, administrou os lucros dos
associados que retransmitiram os jogos em todo o país de uma maneira
muito menos permissiva que em torneios anteriores.
A rede de televisão, por exemplo, manteve disputas com
Prefeituras e autoridades locais sobre o direito de exibição dos
jogos em telões, que chegaram a ser acompanhados por cerca de um
milhão de pessoas nas ruas de todo o país, como no duelo entre
Uruguai e Coreia do Sul.
A SBS também processou hotéis, restaurantes, bares, gerentes de
telões publicitários e cinemas em até 100 milhões de wons (pouco
mais de R$ 146 mil) pelo mesmo motivo.
A emissora se esforçou para rentabilizar os US$ 65 milhões que
pagou pelos direitos de transmissão, algo que poderia ter conseguido
nos milionários contratos que fechou com as companhias de
telecomunicações e portais de internet como Naver e Daum para
transmitir os jogos em telefones celulares e computadores, no país
considerado mais interconectado do mundo.
Apesar da derrota de 2 a 1 para o Uruguai nas oitavas de final,
que encerrou a participação da Coreia do Sul na Copa, muitas
empresas sul-coreanas, começando apenas pelos vendedores de rua,
ainda podem movimentar um volume de vendas estimado em 860 bilhões
de wons (570 milhões de euros) pelo Instituto Hyundai.
A publicidade que a seleção sul-coreana gerou desde o início da
Copa, dia 11 de julho, pode superar os 900 bilhões de wons (R$ 1,257
bilhão), como indica a mesma pesquisa.
A companhia de telecomunicações SK Telecom precisou implantar
mais recursos para organizar a exibição pública dos jogos e, ao
mesmo tempo, distribuir o sinal entre os milhares de canais de
publicidade.
Em meio a esta euforia, a grande estrela do futebol sul-coreano,
o meia do Manchester United Park Ji-Sung, se transformou em um ícone
na cidade de Seul, enquanto que televisões, empresas do setor de
telefonia e portais de internet reservaram grandes espaços para o
futebol.
Inclusive as empresas têxteis viram no frenesi dos torcedores uma
oportunidade única, e distribuíram mais roupas e acessórios
vermelhos, cor eleita pelos torcedores para ser usada na torcida
pela seleção conhecida como "os diabos vermelhos".
Nem sequer a Coreia do Norte, o vizinho comunista, rejeitou a
possibilidade de capitalizar o futebol, e assinou um contrato de
quatro anos de patrocínio no valor de 6 bilhões de wons (R$ 8,776
milhões) com a marca de roupas esportivas italiana Legea, de acordo
com o jornal econômico "Maekyung".
Segundo Lee Sang-Rok, o futebol se transformou na desculpa
perfeita para comemorar a "identidade coreana", aproveitar um
esporte divertido e fácil de entender, e também deixar de lado as
tensões com a Coreia do Norte, equipe que os torcedores sul-coreanos
também adotaram no Mundial. EFE