Por Marcela Ayres e Cesar Bianconi
BRASÍLIA (Reuters) - O superávit comercial brasileiro deve ficar entre 8 bilhões e 10 bilhões de dólares em 2015, acima da faixa de 5 bilhões a 8 bilhões de dólares estimada anteriormente pelo governo, disse à Reuters nesta quinta-feira o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro Neto.
Após o Irã ter selado acordo nuclear com seis potências mundiais nesta semana, o ministro também apontou a abertura de uma janela de oportunidades para a pauta de comércio exterior do Brasil.
Monteiro lembrou que o Brasil já exporta um volume significativo para o Irã, com superávit proporcionalmente grande. Na prática, isso abre espaço para o Brasil oferecer algo em termos de importação para, em contrapartida, incrementar "de maneira significativa" os embarques ao país do Oriente Médio.
No primeiro semestre, o Brasil exportou 760,5 milhões de dólares aos iranianos e importou apenas 2 milhões de dólares.
"O Irã passa a ser, agora mais ainda, um foco prioritário de nossa ação de política comercial", disse Monteiro, destacando que o governo organizará uma missão empresarial ao país neste ano.
Entre os produtos brasileiros que devem se beneficiar com o fortalecimento do fluxo de comércio com o Irã, Monteiro citou commodities como açúcar, milho e grãos, além de bens industriais como máquinas e equipamentos, aviões, têxteis e calçados.
Após o Brasil ter revertido em junho um saldo comercial que até então estava no vermelho em 2015, o ministro melhorou nesta quinta-feira sua perspectiva para a balança comercial no ano.
As expectativas de Monteiro são bem superiores às do Banco Central, que vê a balança encerrando o ano com superávit de 3 bilhões de dólares, e do mercado, que projeta um saldo de 5,50 bilhões de dólares, conforme dados mais recentes do boletim Focus.
De janeiro a junho, o resultado comercial ficou positivo em 2,222 bilhões de dólares, guiado pela queda mais forte das importações que das exportações, em meio ao fraco ambiente macroeconômico.
"É claro que temos nesse momento uma queda da atividade econômica do Brasil e consequentemente isso pressiona para menos importações. Mas, por outro lado, o câmbio está já produzindo um efeito de certa substituição de importações em algumas áreas", avaliou Monteiro.
Durante a entrevista, o ministro pontuou que o desempenho da balança no período teria ficado positivo em 18 bilhões de dólares caso os preços de importantes commodities agrícolas e minerais para a pauta brasileira de exportação, como soja e minério de ferro, tivessem mantido os mesmos patamares de 2014.
Após afirmar que a balança está se ajustando em 2015, Monteiro assinalou que governo espera ampliar o superávit no ano que vem, num movimento menos apoiado na queda das importações.
"Com certeza teremos em 2016, espero, um resultado mais saudável, que possa estar fundado nesta questão da ampliação da própria corrente comercial", disse ele.
Em relação às commodities agrícolas, ele disse não ter dúvidas que "logo logo" haverá uma recuperação de preços que beneficiará as exportações. Para as commodities minerais, contudo, estimou que haverá um período mais longo de preços deprimidos em função da desaceleração do setor de construção na China.
"Acho que o modelo lá vai se assentar mais na questão do consumo e menos no investimento massivo que fizeram na área de infraestrutura. Então isso tem um impacto direto sobre a demanda de commodities minerais."
MERCOSUL
Sobre as reuniões da Cúpula do Mercosul em Brasília nesta quinta e na sexta-feira, Monteiro destacou que há "firme disposição" dos países que integram o bloco de garantir o início da troca de ofertas com a União Europeia no último trimestre do ano, como previsto.
O processo tem como objetivo o estabelecimento de um acordo de associação para trocas comerciais, tarefa que vem sendo ensaiada pelo bloco há 15 anos.
"Mesmo considerando que a União Europeia vai estar promovendo acordos com outros blocos, ainda é possível que o nosso acordo se complete num momento em que ainda vamos poder garantir espaços ao Mercosul", disse o ministro.
(Com reportagem adicional de Silvio Cascione)