Miguel Cabanillas.
Roma, 13 jun (EFE)- As sete maiores potências mundiais, mais a
Rússia, o chamado Grupo dos Oito (G8), já veem sinais de
estabilização em suas economias, embora tenham advertido que ainda
enfrentam riscos "significativos" e que, por isso, entraram em
acordo hoje sobre a criação de critérios mínimos de transparência e
integridade econômicas.
Estes critérios estão reunidos no "Marco de Princípios de Lecce"
("Lecce Framework"), a principal conquista da cúpula do G8 que, da
noite de ontem até hoje, foi realizada na cidade de Lecce, no sul da
Itália, país que ocupa o cargo de presidente rotativo do G8.
"Estamos no meio da pior crise desde a Grande Depressão. A
amplitude e intensidade desta longa recessão revelaram a importância
do fortalecimento de nosso compromisso com padrões de correção,
integridade e transparência", afirma a declaração, em suas primeiras
linhas.
O marco diz ainda que os "excessivos riscos corridos e a violação
destes princípios básicos" contribuíram com a atual recessão
econômica global e que, por isso, os países fizeram o acordo para
que a situação atual não se repita no futuro.
O G8 dividiu em cinco categorias essa "ampla variedade" de
instrumentos para manter esses princípios mínimos: gestão coletiva,
integridade dos mercados, regulação e supervisão financeira,
cooperação sobre impostos e transparência nos dados e políticas
macroeconômicas.
Estas categorias de instrumentos, entre as quais está um maior
controle sobre a troca de informação além das fronteiras, foram
criadas pelo trabalho desenvolvido por instituições como a
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE),
o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Os ministros de Economias e Finanças das grandes potências
pediram à assessoria do FMI para estabelecer medidas que
possibilitem a saída do período extraordinário de controle estatal
gerado pela crise, as chamadas "exit strategies" (estratégias de
saída).
O ministro da Economia da Itália, Giulio Tremonti, já vê sinais
de retorno de certos comportamentos econômicos anteriores à crise
econômica atual, como a especulação de matérias-primas e derivados
nos mercados mundiais.
"A especulação está voltando e isto é um sinal de que a crise de
liquidez pode ter terminado. É o sinal de que a situação em que
estávamos em junho do ano passado está voltando", afirmou Tremonti,
durante uma entrevista coletiva no final da cúpula.
"Ainda levará tempo, mas se antes éramos otimistas na esperança,
agora somos otimistas nos conteúdos", acrescentou o político,
anfitrião da cúpula, que antecede a reunião de chefes de Estado e de
Governo do G8, em julho.
Diante do otimismo do ministro italiano, o secretário do Tesouro
americano, Timothy Geithner, se mostrou mais cauteloso e advertiu
que, por enquanto, não se pode falar de recuperação.
"Não acho que tenhamos chegado a um ponto no qual possamos falar
de uma recuperação de fato. É cedo demais para mudar de rumo e
conter as políticas", disse Geither, na entrevista coletiva.
Segundo fontes das delegações presentes na cúpula, duas frentes
foram estabelecidas durante a reunião: a de países como a Alemanha,
que já pretendem retirar as medidas excepcionais anticrise, e a de
outros, como os Estados Unidos, que defendem sua manutenção.
Seja como for, o G8 (EUA, Reino Unido, Alemanha, França, Canadá,
Japão, Itália e Rússia) vê sinais de estabilização, embora tenham
advertido que a situação continua "incerta", sobretudo em temas como
emprego, um dos assuntos que mais preocupam as maiores economias
mundiais.
"Nossos países continuarão implementando ações para reduzir o
impacto da crise no emprego e para maximizar o potencial de
crescimento dos postos de trabalho no período de recuperação
econômica", diz a declaração da cúpula.
Além disso, os países membros do G8 confirmaram seu compromisso
para cobrir a necessidade de liquidez e de capital dos bancos,
enquanto for necessário. EFE