Berlim, 31 out (EFE).- O ex-presidente soviético Mikhail
Gorbachov, o ex-chanceler alemão Helmut Kohl e o ex-presidente dos
Estados Unidos George Bush (pai) se reencontraram hoje, em Berlim,
para comemorar a queda do Muro, um acontecimento estreitamente
ligado às três personalidades.
"Nós três participamos do processo que levou à queda do muro e à
unidade da Alemanha. Mas os verdadeiros heróis foram outros", disse
Gorbachov.
Em seu discurso, Gorbachov destacou que, ainda antes da queda do
Muro, houve um longo e difícil processo de aproximação entre russos
e alemães que foi preparando o terreno para os eventos de 9 de
novembro de 1989.
"Após tudo o que aconteceu na Segunda Guerra Mundial (1939-1945),
muitos podem ter pensado que seria impossível que russos e alemães
se aproximassem. Foram tempos difíceis", disse Gorbachov, que
lembrou que 30 milhões de russos tinham morrido durante o conflito.
"Agora, já foi inaugurado na Rússia o 20º cemitério de soldados
alemães caídos na guerra e, isso, é quase um milagre", disse
Gorbachov.
Depois, o ex-líder soviético e prêmio Nobel da Paz em 1990
lembrou que as primeiras aproximações já começaram, em plena Guerra
Fria (1947-1991), com o primeiro chanceler alemão do pós-guerra,
Konrad Adenauer, e suas visitas a Moscou para conseguir o retorno de
prisioneiros de guerra à Alemanha.
"Depois veio Willy Brandt e a política de distensão que Helmut
Schmidt prosseguiu. Eles nos prepararam o terreno", disse Gorbachov.
Sobre sua relação de amizade pessoal com Kohl, que foi
considerada fundamental para as conversas que prepararam o caminho
para a reunificação da Alemanha, Gorbachov lembrou que esta não
tinha sido boa desde o início.
"Perdoa, Helmut, mas tenho que dizer isso. Nós não nos entendemos
desde o começo", disse Gorbachov, a quem Kohl respondeu com um
sorriso e o público, com uma gargalhada, lembrando talvez algumas
declarações "infelizes" de Kohl no início dos anos 80.
Naquelas declarações, Kohl comparou Gorbachov com o nazista
Joseph Goebbels, das quais depois se arrependeria, a que o líder
soviético respondeu na época que esperava convencer o chanceler de
que estava errado.
Kohl ressaltou que George Bush (pai) e Mikhail Gorbachov tinham
sido "um presente para a Alemanha" nos momentos em que se começou a
abrir o caminho para a reunificação.
Os dois apoiaram, segundo Kohl, o processo de reunificação ainda
no momento em que outros países, especialmente França e Reino Unido,
não escondiam sua preferência de que continuassem existindo dois
Estados alemães.
"Os dois foram um presente dos céus para nós. A reunificação não
caiu do céu, mas os céus nos ajudaram", disse Kohl.
Gorbachov admitiu, no entanto, que ele ficou surpreso com a
velocidade do processo, e lembrou que, em entrevista coletiva em
1989, disse que a reunificação alemã seria um tema para o século
XXI.
Bush ressaltou que os eventos que acontecem nestes dias, em
relação à queda do Muro, não é algo que afeta somente Berlim, Moscou
ou Washington, mas é um símbolo para todas as partes do mundo onde
existam pessoas lutando para que seus direitos sejam respeitados.
Os discursos de Gorbachov, Kohl e Bush foram precedidos por um
discurso do presidente alemão, Horst Köhler, que defendeu a
integração da Rússia na arquitetura de segurança europeia.
Köhler ressaltou também a necessidade de continuar trabalhando
pela democracia e pela liberdade no mundo, e para isso é preciso um
trabalho de cooperação permanente.
"Há 20 anos, muitos acharam que o mundo se transformaria
automaticamente em um gigantesco Ocidente. Isso era ingênuo", disse
Köhler. EFE