Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) -O Banco Central está monitorando o desempenho de indicadores do mercado de trabalho, área cercada de incertezas, disse nesta sexta-feira a diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central, Fernanda Guardado, citando riscos à inflação de eventuais ganhos elevados nos salários dos trabalhadores.
"Enquanto o fato de que a inflação vai desacelerar à frente é positivo, são mantidos os riscos de que as pessoas continuem a olhar para os níveis altos de inflação e isso possa se traduzir em ganhos reais de remuneração que não são compatíveis com o atingimento das nossas metas", disse.
Em evento promovido pelo banco HSBC, a diretora argumentou que elevações de salários podem ocorrer, desde que acompanhem ganhos de produtividade do país, não sendo positivo que os pagamentos cresçam acima desse indicador.
O dinamismo do mercado de trabalho entrou no radar da autoridade monetária já que elevações muito fortes nas taxas de emprego podem gerar pressões sobre a inflação.
"Há ainda incertezas no horizonte, e uma delas está vindo do mercado de trabalho, como está acontecendo em outros lugares. Temos visto uma recuperação do mercado de trabalho que tem sido um tanto mais forte", disse.
Segundo ela, muito desse crescimento no emprego está vindo do setor de serviços, que é intensivo em mão-de-obra, mas também pode estar relacionado aos efeitos da reforma trabalhista aprovada durante o governo de Michel Temer, que facilitou as demissões e contratações.
Nesta sexta-feira, o IBGE informou que a taxa de desemprego no Brasil caiu a 8,9% nos três meses até agosto em meio a um contingente recorde de pessoas ocupadas, chegando ao nível mais baixo em sete anos, ao mesmo tempo que a renda real dos trabalhadores voltou a crescer.
Na apresentação, Guardado ponderou que ainda não vê pressão elevada nos salários dos trabalhadores brasileiros porque, apesar da recuperação observada, o nível geral ainda está mais baixo do que antes da pandemia de Covid-19.
Guardado disse que as preocupações nessa área não se restringem ao Brasil, afirmando que gargalos nos mercados de trabalho vistos em todo o mundo podem gerar consequências sobre a inércia inflacionária.
A diretora destacou ainda a dificuldade de se mensurar em tempo real o nível do hiato do produto --indicador que mede a ociosidade da economia e pode sinalizar pressões inflacionárias geradas pelo aquecimento da atividade. Um estreitamento maior do que o esperado no hiato foi incluído pelo BC no balanço de riscos que podem elevar a inflação.
(Por Bernardo Caram; edição de Isabel Versiani)