Estrasburgo, 19 jan (EFE).- O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, se defendeu nesta quarta-feira dos ataques da maioria do Parlamento Europeu sobre a lei de imprensa impulsionada por seu Governo e pediu aos deputados que não interfiram em assuntos internos do país.
A Hungria apresentou nesta quarta-feira em Estrasburgo, na França, as prioridades de seu semestre à frente da União Europeia (UE) durante um debate totalmente ofuscado pela polêmica sobre a lei de imprensa aprovada em dezembro do ano passado.
Em previsão das críticas, Orbán já advertiu no início do discurso aos eurodeputados que não misturassem "a política interna húngara" com a Presidência da UE.
"Se misturem os dois planos estou preparado para a luta, mas isso não prejudicará só a Hungria, mas toda a União", alertou o primeiro-ministro.
Contudo, a polêmica sobre a lei da imprensa, chamada por seus críticos de "lei da mordaça", dominou o acalorado debate.
"Numa democracia são os meios de comunicação que controlam o poder e esta lei faz com que o poder seja responsável pelo controle da imprensa. Por isso estamos tão preocupados", declarou o líder socialista, Martin Schulz.
O porta-voz liberal, o ex-primeiro-ministro belga Guy Verhofstadt, que lamentou que a carreira de jornalista comece "a ser problemática" em alguns países da Europa, insistiu que Orbán defenda o "pluralismo".
Em paralelo, o líder verde, Daniel Cohn-Bendit, que chamou o primeiro-ministro húngaro de "Hugo Chávez europeu, um nacional-populista", criticou que a lei obrigue a imprensa de oferecer uma informação "equilibrada".
"A informação equilibrada não existe. O senhor acredita que o senhor Nixon achava a informação do Watergate equilibrada?", disse em referência ao ex-presidente americano.
Enquanto todos os grupos do centro-esquerda atacaram com dureza o primeiro-ministro húngaro, e alguns deputados chegaram a cobrir a boca com mordaças em sinal de protesto pela lei; seu Partido Popular Europeu (PPE) expressou sua confiança e agradeceu o compromisso para fazer as reformas necessárias na lei de imprensa.
A Comissão Europeia está analisando a medida, sobre a que já expressou grandes dúvidas, e deve pedir explicações esta semana a Budapeste sobre alguns de seus pontos.
Orbán reiterou nesta quarta-feira sua disposição a cooperar, mas assegurou que os críticos da legislação cometem "erros" e lamentou os ataques que segundo sua opinião estão atingindo seu país.
"Se alguém ataca meu país, eu vou defendê-lo", garantiu Orbán em seu turno de réplica, no qual exigiu respeito dos eurodeputados para a Hungria.
"Eu não permito que os alemães nem ninguém que só porque vivenciaram uma ditadura durante 40 anos possam duvidar do compromisso democrático dos húngaros", insistiu.
"Sou o maior perigo para a esquerda europeia, entendo que me ataquem", ironizou.
A lei de imprensa húngara, que substitui o texto anterior de 1986, provocou críticas de jornalistas, organizações internacionais e grupos políticos de diferentes países por sua suposta falta de garantias. EFE