Carmen Postigo.
Roma, 27 fev (EFE).- A Itália aparece como o país europeu mais afetado pela crise na Líbia devido a seus elevados interesses na ex-colônia e ao risco de uma avalanche de líbios em direção ao país europeu.
Antes que explodisse a revolta popular na Líbia e a violenta repressão sobre a mesma, o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, e o líder líbio, Muammar Kadafi, mantinham uma cordial relação que, inclusive, assinou em 2008 o Tratado de Amizade, Associação e Cooperação.
Os acordos se traduziram em importantes negócios bilaterais por um valor de mais de US$ 40 bilhões anuais e compreende os setores de petróleo, energia, gás, construção, infraestruturas e motor.
A Itália mantinha com a Líbia acordos militares, enquanto o "Líder da Revolução" líbia se comprometia a fechar suas fronteiras na saída de imigrantes rumo a Itália.
O ditador líbio utilizou o dinheiro do petróleo para investir em bancos, montadoras e até futebol italiano. A Líbia também tem participação em empresas italianas como os bancos Unicredit, na qual participa 7,4%, a aeroespacial Finmeccanica (2,1%), a elétrica Eni (2%), telecomunicações (14,8%) e o time de futebol Juventus (7,5%).
Uma amizade baseada supostamente em fechar as velhas feridas coloniais e que hoje os manifestantes na cidade líbia de Benghazi proclamam: "O dinheiro italiano para indenizar a Líbia serviu a Kadafi para comprar armas usadas contra o povo líbio", informa o jornal "Corriere della Sera".
A passividade caracterizou Berlusconi nestes dias apesar das críticas da oposição italiana e as vozes do exterior que impeliam ao que sem dúvida é o melhor interlocutor europeu da Líbia, a chamar Kadafi e convencer-lhe que devia frear a brutal repressão contra seu povo.
Finalmente a ligação telefônica de Berlusconi a Kadafi aconteceu nesta semana e o primeiro-ministro "ficou impressionado pela violência verbal" de seu parceiro, disseram à Agência Efe fontes governamentais, que acrescentaram que Berlusconi se mostra "muito preocupado".
O primeiro-ministro teve que negar taxativamente que a Itália estivesse fornecido armas pesadas à Líbia, uma acusação feita por Kadafi durante seu discurso televisado ao país.
"Devemos estar atentos a Kadafi, ele é um louco", disse Berlusconi a seus colaboradores, segundo as mencionadas fontes.
Perante a impossibilidade de Kadafi de controlar suas despesas judiciais, a Itália pôs no primeiro lugar de suas prioridades a definição de medidas a tomar perante uma eventual avalanche de líbios, que chegou a definir "de proporções bíblicas", e se preparou a implicar à União Europeia (UE) perante o que pudesse suceder.
"Esperamos um fluxo imponente. É um país em caos, a entidade do fluxo dependerá de como se resolve a situação. Tememos que seja de consequências muito graves", disseram a fontes governamentais consultadas pela Efe.
O Governo italiano analisa todas as possibilidades sobre o que pode ocorrer depois: "Se vencerá a democracia ou o fundamentalismo islamita, que pode ser da Al Qaeda", disseram à Efe fontes governamentais.
A Itália sustenta que a integridade territorial da Líbia pode estar em perigo.
"Há uma presença islamita, sobretudo, no nordeste do país, que pode adotar forma de fundamentalismo com todas suas ramificações internacionais", disseram as fontes que o episódio em Benghazi, a segunda maior cidade da Líbia e que já foi controlada por Kadafi.
Além disso, - explicaram - ainda há 10 mil italianos na Líbia enquanto os aeroportos líbios abrem em conta gotas e a Marinha militar realizou um bloqueio naval. EFE