Varsóvia, 10 abr (EFE).- O presidente polonês, o conservador Lech
Kaczynski, morto hoje em um acidente aéreo quando seguia para uma
cerimônia em homenagem às vítimas da batalha de Katyn, um confronto
com a Rússia, tinha suavizado nos últimos tempos seu perfil de
euroescético que sacudiu à União Europeia.
Lech Kaczynski se tornou chefe do Estado em 2005, após uma
exitosa carreira junto com seu irmão gêmeo, Jaroslaw, que em dupla
governaram a Polônia.
Aos 60 anos, Kaczynski perdeu a vida com a queda do Tupolev 154
em que viajava em companhia da mulher, Maria, e uma delegação
polonesa de altos representantes nas proximidades do aeroporto russo
de Smolensk, onde seriam realizadas as comemorações em memória dos
soldados poloneses massacrados pelos serviços secretos soviéticos,
em Katyn, 70 anos atrás.
Kaczynski e os demais passageiros morreram após o incêndio da
aeronave, quando o avião tocou a pista do aeroporto.
A morte ocorre em uma data de extrema importância nas relações
entre a Varsóvia e Moscou. Neste sábado, os dois países dariam um
passo adiante rumo à superação das divergências do passado.
Político experiente na luta pela democracia, mas pouco articulado
no que concerne à democracia, Lech Kaczynski havia suavizado o tom
nos últimos anos, desde que seu irmão Jaroslaw deixou o cargo de
primeiro-ministro, em 2007, ao ser derrotado pelo liberal Donald
Tusk.
Juntos, um na chefia do Estado e o outro no do Governo, os irmãos
repartiram a cúpula do poder na Polônia.
Jaroslaw é considerado o autêntico artífice e a versão mais
radical do partido Lei e Justiça (PiS), com o qual Lech chegou à
Presidência no segundo turno das eleições realizadas em 23 de
novembro de 2005, nas quais venceu Rusk.
Kazcynski representava a via do "Estado forte", de tônica
nacionalista, frente a um Tusk conciliador e europeísta. Jaroslaw
desempenhava a função de dirigente do partido, enquanto Lech assumiu
a luta pela Presidência.
Nascidos em 18 de junho em Varsóvia, os gêmeos Lech e Jaroslaw
estrearam, antes de ganharem destaque na política, no cinema. Aos 12
anos, foram alçados ao estrelado como personagens principais do
filme baseado num conto "Os dois que roubaram a lua".
O filme, uma narração sobre dois irmãos que decidem roubar a lua,
foi rodada em 1962, pelo diretor Jan Batory e foi, durante muitos
anos, o filme infantil de maior sucesso na Polônia.
Entre esse episódio engraçado e a chegada ao poder há uma longa
trajetória, que para Lech começou como membro do comitê de defesa
dos operários criado pelo dissidente comunista Jacek Kuron em 1976
para ajudar aos trabalhadores expulsos de suas empresas pela
ditadura após as greves de Radom e Ursus.
O comitê arrecadava recursos para pagar os advogados dos
operários presos e ajudar suas famílias em dificuldades financeiras.
Quando surgiu o sindicato Solidariedade, após as grandes greves
do verão de 1980, Lech Kaczynski uniu-se ao protesto com grande
energia e chegou à vice-presidência da organização.
Após a proclamação da lei marcial pelo general Wojciech
Jaruzelski, Lech Kaczynski, assim como milhares de poloneses,
continuou a luta pela democracia na clandestinidade organizando
protestos, colaborando na impressão e distribuição de panfletos.
Em 1989, por ordem de Jaruzelski, os representantes do poder
começaram a negociar a transição com os representantes da oposição
democrática, liderados por Lech Walesa, Kaczynski foi um dos
negociadores mais ativos no capítulo relacionado ao restabelecimento
da legalidade do sindicato Solidariedade.
Já na democracia e após o triunfo de Walesa nas eleições
presidenciais de 1990, Kaczynski ocupou a chefia do Escritório de
Segurança Nacional adjunta à Presidência e mais tarde foi presidente
da Câmara Suprema de Controle (Tribunal de Contas).
Em 1999, foi nomeado ministro da Justiça pelo então
primeiro-ministro, Jerzy Buzek, e em 2001 tornou-se prefeito de
Varsóvia, cargo que o alçou a conquista de seu principal objetivo, a
Chefia do Estado.
Em sua campanha presidencial, ressaltou seus vínculos com a
Polônia tradicional e católica confirmada por sua atitude
intolerante. Como prefeito da capital polonesa proibiu passeatas de
igualdade organizadas pelos homossexuais.
Depois da ratificação do Tratado de Lisboa, protagonizou uma dura
queda-de-braço com a chanceler Angela Merkel, durante a Presidência
rotativa alemã da UE, até que finalmente assinou o tratado, em 10 de
outubro de 2009 em Varsóvia.
Com o passar dos anos na Presidência e a saída de seu gêmeo do
primeiro escalação de Governo, Kaczynski suavizou nos últimos tempos
seu perfil com relação à UE e à vizinha Alemanha, salvo pontuais
discordâncias pelas nunca totalmente superadas diferenças
históricas.
O casal Lech e Maria Kaczynski deixa uma filha, Marta. EFE