Brasília, 21 set (EFE).- O Brasil acumulou déficit em conta
corrente de US$ 31,122 bilhões nos primeiros oito meses do ano,
montante três vezes maior que o registrado no mesmo período de 2009,
o que levará a saldo negativo recorde em 2010 e em 2011, segundo
projeções divulgadas nesta terça-feira pelo Banco Central.
O déficit nas transações correntes do Brasil com o exterior
chegará este ano ao valor recorde de US$ 39 bilhões (2,49% do PIB) e
voltará a subir em 2011, quando vai alcançar US$ 60 bilhões (2,78%
do PIB), de acordo com cálculos da autoridade monetária.
Até agora, o maior saldo negativo em conta corrente do Brasil foi
registrado em 1998, quando os recursos enviados ao exterior
superaram os que ingressaram em US$ 33,4 bilhões.
Contribuem para a deterioração das contas externas, além da forte
queda do superávit comercial, a expansão das remessas de lucros e
dividendos das empresas estrangeiras instaladas no país e as
crescentes despesas dos turistas brasileiros no exterior.
Como a economia brasileira cresce com força este ano, as
importações aumentaram significativamente para atender à crescente
demanda, assim como as divisas que as empresas multinacionais enviam
ao exterior para ajudar suas matrizes.
O Banco Central reajustou sua projeção para o superávit comercial
em 2010, de US$ 13 bilhões para US$ 15 bilhões, mas o valor ainda
está abaixo do de 2009 (US$ 25,348 bilhões). De acordo com os
cálculos da instituição, o superávit comercial cairá ainda mais em
2011, para US$ 11 bilhões.
Além disso, a projeção para 2010 do déficit na conta de serviços
e de renda, que inclui entre outros as remessas de lucros, o
pagamento de juros e as viagens ao exterior, foi elevada de US$ 65,5
bilhões para US$ 67,5 bilhões.
Praticamente metade desse déficit previsto (US$ 32 bilhões) se
refere a recursos que as multinacionais enviam ao exterior como
remessas de lucros e dividendos.
O saldo na conta de viagens internacionais (diferença entre o que
os estrangeiros gastam no país e o que os turistas brasileiros
gastam no exterior) também será recorde e alcançará US$ 10 bilhões
este ano e US$ 11,5 bilhões em 2011.
Apesar de não superar o recorde de julho (US$ 1,53 bilhão), as
despesas dos turistas brasileiros no exterior em agosto somaram US$
1,3 bilhão, o maior valor registrado para este mês.
Além disso, o investimento estrangeiro direto, que compensava o
resultado negativo nas contas externas, será inferior ao previsto
inicialmente. O Banco Central reduziu sua projeção para o
investimento estrangeiro em projetos produtivos este ano, de US$ 38
bilhões para US$ 30 bilhões.
Até agosto, o saldo era de US$ 17,130 bilhões, frente aos US$
15,856 bilhões dos primeiros oito meses do ano passado.
O investimento estrangeiro direto, no entanto, crescerá em 2011 e
pode chegar a US$ 45 bilhões, segundo as projeções oficiais. EFE