São Paulo, 29 jun (EFE).- O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
criticou hoje os subsídios com os quais os países ricos protegem sua
agricultura e assegurou que a resposta do Brasil à crise será
intensificar o comércio internacional.
"Mais comércio será nossa resposta à crise internacional", disse
Lula, em São Paulo, no fechamento do encontro empresarial
Brasil-Itália: Novas Parcerias Estratégicas, que contou com a
participação do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, que
fez uma breve visita hoje ao país.
Em um ato no qual assinaram vários acordos para estimular os
investimentos e o comércio bilateral, o presidente acrescentou que o
contexto de recessão mundial "reforçou o papel decisivo dos países
emergentes", como o Brasil.
O presidente se mostrou muito crítico à política de apoio ao
setor primário nas nações desenvolvidas e ressaltou que "o subsídio
à agricultura dos países ricos é prejudicial para os mais pobres".
Lula se referia mais especificamente aos subsídios do Governo
americano e disse que se trata de "um final muito negativo para quem
passou a vida falando de livre-comércio".
"Livre-comércio não é só vender nossos produtos, (...) é também
comprar. O livre-comércio é verificado em uma possibilidade de
igualdade, em equidade", acrescentou.
O presidente declarou que é preciso "acreditar que é possível"
concluir com sucesso a Rodada de Doha da Organização Mundial do
Comércio (OMC).
Lula afirmou que o país é um bom destino para os investimentos e
o comércio, destacou o "extraordinário potencial" do turismo de
Brasil e Itália e disse que a visita de Berlusconi "fortalece a
cooperação estratégica".
O presidente lembrou os laços que unem os dois países e os quase
30 milhões de brasileiros de origem italiana que vivem no país.
"A única coisa que temos diferente é um pouco a língua e nosso
passaporte", disse.
Já Berlusconi afirmou que a "Itália é um parceiro ideal para o
Brasil" e destacou que seu país não precisou de ajudas econômicas da
França ou da Alemanha durante a crise que afeta a Europa.
"Não temos petróleo, mas temos a criatividade de nossos
empresários", disse o primeiro-ministro italiano, que defendeu o
aprofundamento das relações bilaterais e assegurou que os acordos
assinados hoje "abriram" o leque de produtos que podem ser
exportados para o Brasil.
Além disso, o premiê apontou como âmbitos para a cooperação
bilateral as infraestruturas, o setor aeroespacial, a tecnologia e o
transporte ferroviário.
Por outro lado, Berlusconi encorajou Lula a voltar a
candidatar-se à Presidência dentro de quatro anos, já que não pode
tentar uma segunda reeleição consecutiva.
"Agora o presidente vai descansar durante quatro anos e depois
poderá voltar a trabalhar oito anos pelo Brasil", disse Berlusconi.
"Tenho certeza de que o país sentirá a perda de um grande
presidente", acrescentou.
Itália e Brasil ainda têm pendente a polêmica gerada pela
extradição do ex-ativista de esquerda italiano Cesare Battisti,
condenado por quatro assassinatos em seu país e que está preso no
Brasil.
"A relação do Brasil com a Itália é tão forte que qualquer que
seja a decisão no caso Battisti não causará nenhum arranhão entre os
dois países", assegurou Lula.
Em declaração conjunta distribuída à imprensa, os dois líderes se
comprometeram também a promover uma solução pacífica aos conflitos
existentes, a combater a pobreza, a defender os direitos humanos e a
contribuir para a reforma das instituições internacionais, incluindo
o Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Além disso, destacaram a importância de concluir com sucesso as
negociações da Rodada de Doha e de avançar rumo a um acordo
comercial entre o Mercosul e a União Europeia (UE). EFE