Villa Hayes (Paraguai), 30 jul (EFE).- O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva reconheceu hoje que o Brasil obteve mais lucros que o
Paraguai com a usina hidrelétrica conjunta de Itaipu, ao inaugurar a
segunda rede de distribuição elétrica da usina no lado paraguaio.
Em Itaipu Binacional, situada sobre o Rio Paraná e que abastece
grandes cidades e ricas áreas industriais brasileiras, "o grande
ganhador até agora foi o Brasil", afirmou Lula em entrevista
coletiva conjunta com o líder paraguaio, Fernando Lugo. Segundo o
Lula, o Paraguai "usa pouquíssima" energia da usina.
Os dois governantes falaram à imprensa após o início das obras de
uma conexão elétrica na cidade de Villa Hayes, na região do Chaco,
ao norte de Assunção, em cerimônia pela breve visita oficial de Lula
ao Paraguai.
A rede de distribuição, a segunda conectada a essa usina no
Paraguai, terá um custo de US$ 400 milhões, que será financiado com
recursos do Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul
(Focem).
Esse fundo é formado pelos quatro países do bloco sul-americano -
Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai. A contribuição de cada país
aos cofres da entidade é proporcional ao tamanho econômico deles; o
Brasil, portanto, é de longe o maior contribuinte.
A linha de transmissão, de 500 quilowatts, representa o dobro do
consumo de energia de Assunção e suas cidades divisórias, indicou
Lula em seu discurso durante cerimônia em que reafirmou o
compromisso de seu país com o acordo assinado com Lugo há pouco mais
de um ano, em 25 de julho de 2009 em Assunção.
Além da rede elétrica, o acordo, de 31 pontos, prevê triplicar os
US$ 120 milhões que o Paraguai atualmente recebe pela venda ao
Brasil do excedente da energia de Itaipu que não consome.
A obra foi apresentada no Paraguai como uma contribuição do
Brasil. No entanto, em maio passado, durante no encontro
presidencial anterior, esclareceu-se que o projeto será financiado
pelo Focem.
Outros pontos do acordo, como a triplicação das compensações que
recebe o Paraguai e a venda direta de Assunção do excedente
energético ao sistema brasileiro, estão sujeitos à aprovação no
Congresso brasileiro.
Nesse sentido, Lula disse que, na próxima semana, o acordo
entrará em votação nas comissões do Senado. De acordo com o
presidente, o processo legislativo seria completado em setembro,
antes portanto de terminar seu mandato, no final do ano.
"Espero que o próximo presidente mantenha a mesma visão de
integração que eu tenho", ressaltou Lula. Segundo ele, está muito
avançada a construção da segunda ponte na fronteira com o Paraguai.
Esse novo cruzamento fronteiriço, que será financiado pelo
Brasil, permitirá a redução do contrabando na Ponte da Amizade, que
une Foz do Iguaçu (PR), do lado brasileiro, a Ciudad del Este, no
paraguaio.
Lula disse que espera, antes de deixar o cargo, melhorar "todos
os focos de problemas da fronteira", referindo-se ao contrabando e
ao tráfico de drogas, entre outros.
Por sua vez, o governante paraguaio, cujas reivindicações em
Itaipu foram eixo de sua campanha eleitoral há dois anos, destacou
que, por meio do "critério de solidariedade, pode-se chegar a
soluções verdadeiras acima das pobrezas humanas".
No Paraguai, as negociações do Governo Lugo, que chegou ao poder
em agosto de 2008, foram duramente criticadas pela oposição e pela
imprensa local - ambas consideram que Lula descumpriu suas
promessas. Enquanto isso, no Brasil, o presidente é questionado
pelas concessões ao país vizinho.
As declarações de hoje podem também dar margem para novas
concessões de Lula, pois, ao afirmar que o Brasil lucrou mais com
Itaipu, o presidente pode dar a entender que o país está em débito
com o Paraguai e, por isso, deveria compensá-lo. EFE