Pilar Domínguez.
Dacar, 7 fev (EFE).- O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi ovacionado nesta segunda-feira no Fórum Social Mundial (FSM), em Dacar, onde declarou que um novo mundo é possível e fez duras críticas à anarquia dos mercados, ao FMI, ao Banco Mundial (BM) e à Organização Mundial do Comércio (OMC).
Em sua primeira aparição em público fora do Brasil desde que foi substituído na Presidência pela petista Dilma Rousseff, Lula proferiu nesta segunda-feira um discurso em uma sala abarrotada de seguidores e admiradores do FSM, que cantavam o nome do ex-líder com entusiasmo.
Ele foi o protagonista da mesa de debate, composta também pelo próprio presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, pela diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, e por destacados organizadores do FMS - que neste ano reúne cerca de 60 mil participantes.
Em seu discurso, Lula defendeu uma rápida criação do Estado palestino e uma verdadeira luta contra a pobreza, destacando o potencial e vitalidade da África, mas advertindo ao continente que "não há soberania sem segurança alimentar".
Há dez anos, quando o FMS surgiu em Porto Alegre, "nos juntamos para reafirmar que um mundo novo era necessário e possível", disse Lula, ao manifestar que esse "é um sonho que não vamos abandonar nunca".
Durante mais de meia hora, Lula falou sobre a situação mundial, dizendo que "há uma consciência cada vez mais forte no mundo do fracasso do consenso de Washington".
"Aqueles que, com arrogância, nos davam lições sobre como administrar nossas economias, não foram capazes de evitar a crise em seus países e no conjunto da humanidade", declarou Lula. Segundo ele, as nações antes consideradas "periféricas" e "problemáticas" agora são fundamentais para a economia mundial. "Somos parte essencial da solução da crise econômica".
A crise não foi provocada pelos países pobres e emergentes, mas pela "anarquia dos mercados e irresponsabilidade de governantes que não souberam ou não quiseram regulá-los", assinalou Lula. "Não podemos sucumbir à tentativa de substituir o neoliberalismo fracassado por um nacionalismo primitivo, conservador e autoritário".
"Os recursos necessários para superar a fome e a pobreza no mundo não são poucos", disse o ex-presidente, para quem tais recursos representam muito menos que a quantia total utilizada para salvar os "bancos e instituições financeiras quebradas que provocaram a crise".
"Essa é a agenda da direita europeia e americana, que utiliza os imigrantes como bodes expiatórios diante da corrosão do Estado de Bem-Estar e ataca os direitos dos trabalhadores", exclamou Lula.
Sobre o combate à fome, Lula defendeu um sistema multilateral de comércio que se livre dos "vergonhosos subsídios dos países ricos", porque, para o ex-líder, estes são como uma sabotagem à incipiente agricultura dos países pobres.
Para o ex-governante, a OMC não concluiu o acordo de 2008 porque o Governo dos Estados Unidos se opôs por causa das eleições que se desenrolavam na época.
Para Lula, não faz sentido que o FMI e o BM imponham ajustes estruturais que impossibilitem o incentivo da agricultura aos países mais pobres, nem há explicação para que o preço do petróleo ultrapasse a barreira dos US$ 100.
O brasileiro afirmou que "a segurança internacional não pode ser tratada como atribuição exclusiva de um punhado de grandes potências" e é inaceitável justificar a agressão como medida preventiva e intolerável transformar as diferenças em motivo de conflito.
Em relação ao conflito do Oriente Médio, Lula considerou que o "fracasso das políticas das grandes potências" acaba tendo consequências negativas para os demais países. "É fundamental avançar rapidamente na criação de um Estado palestino que seja economicamente viável, socialmente integrado e que possa conviver em paz com Israel".
O ex-presidente lembrou as vezes que participou de reuniões do Grupo dos 20 (G20, bloco de nações ricas e emergentes) e advertiu que não se deve acreditar que neste foro há sensibilidade sobre o problema da fome e da pobreza.
Já o presidente do Senegal defendeu um imposto aos movimentos de capitais para financiar a luta contra a pobreza e criticou que "o preço do petróleo esteja fixado de forma arbitrária por um monopólio chamado Opep" - Organização dos Países Exportadores de Petróleo. EFE