Natalia Kidd.
Buenos Aires, 31 jul (EFE).- O Mercosul, que enfrenta
dificuldades históricas para avançar em tratados comerciais de peso,
chega a sua 29ª cúpula em negociações para um acordo de
livre-comércio com a União Europeia (UE), complexas devido às amplas
diferenças entre os dois blocos.
Depois do apoio político dos dois blocos em maio passado ao
relançamento das conversas, congeladas desde 2004, os negociadores
voltaram a se reunir no final de junho, em Buenos Aires, onde
reafirmaram sua vontade de alcançar um "acordo ambicioso e
equilibrado".
O Brasil, único país do Mercosul que tem um acordo de associação
estratégica com a UE, se comprometeu a dar prioridade às conversas
quando assumir, na próxima terça-feira, a Presidência de turno do
bloco, formado ainda por Argentina, Paraguai e Uruguai.
A nova etapa negociadora é mais ambiciosa, já que inclui 90% do
comércio bilateral, 20% a mais que até 2004, quando as conversas
excluíam o setor automotivo e as trocas de peças de automóveis.
Os sul-americanos também melhoraram sua oferta em compras
governamentais e esperam que a proposta europeia tenha "um mínimo de
benefícios", segundo fontes diplomáticas brasileiras.
Além das ambições europeias para a entrada de seus produtos
industriais no Mercosul, o capítulo agrícola é uma dos principais
obstáculos às negociações, não só pelas exigências sul-americanas de
maior acesso para suas exportações e eliminação das ajudas internas
da UE, mas pelas resistências do próprio setor agrícola europeu.
Agricultores europeus advertiram que um acordo com o Mercosul -
região líder na produção de alimentos - representará perdas
multimilionárias para eles.
Eles reivindicam uma política agrícola comum mais "sólida", uma
exigência acompanhada pela França e outros dez países europeus com
um forte setor agrícola.
A retomada das negociações coincidiu com queixas da UE por
supostos impedimentos à importação de alimentos impostos pela
Argentina, país que rejeita as acusações e as relaciona com uma
possível tentativa europeia de "dividir o Mercosul".
Com este cenário, influentes líderes industriais brasileiros e
até o candidato à Presidência pelo PSDB, José Serra, se manifestaram
a favor de uma negociação bilateral entre Brasília e a UE, excluindo
os outros membros do Mercosul.
"Alguns dizem que o Brasil deveria ter um acordo bilateral com a
UE e isso, do ponto de vista da solidez do Mercosul, é preocupante",
disse à Agência Efe o economista argentino Félix Peña, especialista
em temas de integração, para quem a simples hipótese enfraquece a
posição negociadora do bloco frente à UE.
"Uma das fraquezas estruturais do Mercosul é a dificuldade para
avançar em negociações externas", reconheceram fontes diplomáticas
argentinas.
Fora da América Latina, o bloco assinou apenas um tratado de
livre-comércio com Israel e acordos de preferências tarifárias com a
Índia e a União Aduaneira da África Austral (formada por Botsuana,
Lesoto, Namíbia, Suazilândia e África do Sul), parceiros com os
quais as trocas comerciais representam apenas 2,36% do total do
comércio exterior do Mercosul.
O bloco também abriu negociações com Egito, Marrocos, Paquistão,
Jordânia, Turquia e o Conselho de Cooperação do Golfo (Arábia
Saudita, Barein, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Catar e Omã),
países com um peso marginal no comércio do Mercosul.
As queixas pelos poucos acordos alcançados fora da América Latina
não são novos. O Uruguai expressou no passado certa frustração e
sondou sem sorte a alternativa de uma negociação bilateral com os
Estados Unidos. EFE