Óscar Tomasi.
Lisboa, 19 ago (EFE).- A venda do colombiano Falcão Garcia do Porto para o Atlético de Madrid por 40 milhões de euros é a última de uma série de transferências multimilionárias protagonizadas por clubes portugueses, cuja política se baseia em contratar jovens valores, principalmente sul-americanos, e transferi-los depois a preço de ouro.
Os dois maiores representantes deste 'modus operandi' são o Porto e o Benfica, que nos últimos sete anos e com o auxílio do empresário Jorge Mendes - envolvido na maioria das grandes operações realizadas - embolsaram cerca de 400 milhões de euros.
Um bom exemplo foi a venda do brasileiro Anderson, então com 19 anos, ao Manchester United por 31,5 milhões de euros em 2007, apenas dois anos depois de o Porto ter pagado ao Grêmio nove milhões de euros pelo passe do jovem meia.
Em 2009 foi a vez dos argentinos Lucho González e Lisandro López, transferidos ao futebol francês por 18 e 24 milhões de euros, respectivamente, quase três vezes mais do que custaram ao Porto.
No ano passado, o Benfica se uniu a esta tendência e vendeu por 22 milhões de euros o passe do brasileiro Ramires, de 24 anos, ao Chelsea, que tinha sido comprado do Cruzeiro apenas um ano antes por 7,5 milhões de euros.
Os lisboetas repetiram o mesmo procedimento com o argentino Ángel Di María, que venderam ao Real Madrid por 30 milhões de euros após ter pagado 5,5 milhões de euros ao Rosário Central pelo jogador em 2007.
Em janeiro deste ano, o Benfica voltou a lucrar com a saída do zagueiro brasileiro David Luiz, por quem o Chelsea pagou 25 milhões de euros, dez vezes mais do que o Benfica pagou ao Vitória-BA quatro anos antes.
O último exemplo de revalorização ocorrido em Portugal foi o do colombiano Falcão Garcia, que aterrissou no Porto com 23 anos procedente do River Plate em troca de cinco milhões de euros e deixa nos cofres do clube um montante oito vezes maior.
Os 40 milhões de euros pagos pelo Atlético de Madrid (aos quais podem se somar outros sete milhões em função do cumprimento de outras cláusulas) se transformaram na transferência mais cara do futebol português em toda sua história.
Estes casos refletem a tendência cada vez mais comum entre os clubes lusos de apostar em jovens promessas, principalmente da América do Sul, pelas quais arriscam e pagam altas quantias com a esperança de rentabilizar seu investimento no futuro.
No Benfica, os exemplos são o zagueiro brasileiro Sidnei (comprado por sete milhões de euros do Internacional) e o meia argentino Nico Gaitán (comprado por 8,4 milhões milhões do Boca Juniors).
No rival Porto, os destaques são o atacante brasileiro Hulk (19 milhões de euros e blindado por uma cláusula de rescisão de 100 milhões) e o meia argentino Belluschi (comprado por 5 milhões do Olympiacos).
De fato, ainda este ano, o Porto voltou a coçar o bolso para adquirir as promessas brasileiras Alex Sandro (9,6 milhões de euros) e Danilo (13 milhões de euros), ambos laterais do Santos.
Um diferencial dos portugueses é a firmeza que demonstram no momento da negociação; e a prova são as transferências multimilionárias de jogadores portugueses a outras ligas que se repetiram nos últimos anos.
O luso-brasileiro Pepe (30 milhões de euros), Bruno Alves (22 milhões), Bosingwa (20,5 milhões), Raúl Meireles (18 milhões), Nani (25 milhões), Quaresma (18 milhões) e o próprio Cristiano Ronaldo, que em 2003 deixou o Sporting de Lisboa e foi para o Manchester United em troca de 15 milhões de euros, são bons exemplos.
Um dos mais casos paradigmáticos é o do atacante Bebê, atualmente cedido ao Besiktas, da Turquia, por quem o Manchester pagou nove milhões de euros sem ter disputado uma única partida oficial pelo Vitória de Guimarães.
As conquistas de José Mourinho e Cristiano Ronaldo nos últimos anos e o sucesso do Porto na temporada passada ao se sagrar campeão da Liga Europa puseram o futebol português na crista da onda.
Seus dirigentes, especialmente o hábil presidente do Porto, Nuno Pinto da Costa, aproveitaram o momento para rentabilizar ao máximo suas vendas.
Neste ano, o lateral esquerdo do Benfica, Fábio Coentrão, e o ex-técnico do Porto, André Villas-Boas, só saíram de Portugal após o pagamento das cláusulas de rescisão, de 30 e 15 milhões de euros, respectivamente.
A transferência do próprio Falcão Garcia foi concretizada apenas cinco milhões de euro abaixo de sua cláusula, que passou há um mês de 30 para 45 milhões de euros com a assinatura de um novo contrato entre o colombiano e o Porto - algo que só serviu para aumentar seu preço no mercado. EFE