Nuria Vicedo.
Copenhague, 9 dez (EFE).- As ONGs reunidas na cúpula da ONU sobre
mudança climática (COP15) reprovaram hoje a falta de "clareza" da
União Europeia (UE) e pediram aos países do bloco que se comprometam
com uma redução das emissões de dióxido de carbono (CO2) em 40%.
Segundo a rede Climate Action Network International (CAN), que
reúne 500 organizações, o objetivo atual de reduzir os gases do
efeito estufa em 20% a respeito de 1990 não representa nenhum
esforço adicional para a UE e é "insuficiente" para limitar o
aquecimento global em 2 graus.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, em
inglês) recomenda que as emissões de efeito estufa sejam reduzidas
em 25% a 40% até 2020 (a respeito de 1990), para evitar que as
temperaturas aumentem mais de 2 graus acima do nível de 1900, algo
que poderia ter consequências catastróficas para o planeta.
O diretor do programa europeu da organização ambientalista WWF,
Jason Anderson, criticou que a UE proponha aumentar seus planos de
redução a 30% como "moeda de troca" para que outros países aumentem
seus compromissos.
"Os 30% devem ser fixados como objetivo principal na cúpula da UE
que começa amanhã. A proposta de aumento adicional deve ser
estabelecida em 40%. É a única maneira de agir de forma decidida
contra o aquecimento global", afirmou.
Segundo ele, se a Europa mantiver seu objetivo em 20%, "dará as
costas" a um processo de conscientização sobre a mudança climática
"que liderou durante a última década".
"Isso não só seria autodestrutivo, mas colocaria em risco
qualquer esperança de alcançar um acordo climático e toda
possibilidade de salvar o planeta", disse.
Quanto ao financiamento da adaptação à mudança climática nos
países em vias de desenvolvimento, que deve ser oferecido pelos
países ricos, Anderson argumentou que a UE deveria assumir um terço
das despesas.
"Dos US$ 100 bilhões que se estima que serão necessários em 2020,
a Comissão Europeia (órgão executivo da UE) calcula que sua
obrigação é oferecer entre US$ 2 bilhões e US$ 15 bilhões. Isso é
ainda menos do que fornecem agora", criticou.
Sobre o rumo da cúpula, Kim Carstensen, da WWF, disse que as
negociações estão se desenvolvendo dentro de uma "atmosfera
positiva", mas ressaltou que os negociadores técnicos "podem decidir
pouco" quanto aos objetivos finais de redução de CO2 e à mitigação
dos efeitos da mudança climática.
"Para as decisões reais, será preciso esperar a chegada dos
representantes ministeriais, neste fim de semana, e dos chefes de
Estado e de Governo, no final da próxima semana", disse.
Aiden Meyer, da União de Cientistas Preocupados (UCS, em inglês),
disse que Washington "não tem liberdade ilimitada" para propor uma
redução "ambiciosa" de emissões até que conclua o processo
parlamentar em seu país, mas acrescentou que "pode melhorá-la".
Afirmou que a Administração do presidente americano, Barack
Obama, deve "recuperar o ritmo", após os "anos perdidos" pelo
Governo de George W. Bush, e disse que a pressão do "setor do
petróleo" está impedindo que os EUA "deem um salto adiante
decisivo".
No entanto, elogiou que Obama esteja planejando um projeto para
financiar medidas a fim de reduzir o desmatamento em países em
desenvolvimento, o que se traduziria em uma queda das emissões "fora
dos EUA".
A redução de emissões causadas pelo desmatamento e pela
degradação das florestas e a preservação dessas áreas são outros
temas relevantes debatidos em Copenhague.
O diretor-geral do Centro para Pesquisa Florestal Internacional
(Cifor, em inglês), Francis Seymour, reivindicou hoje a criação de
um "mecanismo global" que pague aos países em vias de
desenvolvimento para proteger suas florestas e reduzir as emissões
pelo desmatamento e degradação das matas.
"O desmatamento representa até 20% das emissões de gás de efeito
estufa, mais que todo o setor dos transportes", afirmou.
Seymour defendeu que a cúpula estabeleça quem são os donos das
florestas e do CO2 que armazenam, e que sejam fixados sistemas
justos nos pagamentos por serviços ambientais, para preservar as
florestas. EFE