Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, chamou a atenção nesta terça-feira para a melhora nos indicadores fiscais do país, ressaltando que o pano de fundo para a dívida bruta é hoje "inegavelmente melhor" do que há alguns meses, e não apenas por causa do impacto da inflação.
Em participação no evento Expert XP, ele insistiu que o mercado precisa olhar "para além do ruído" e frisou que a expectativa para o resultado primário no próximo ano é de "número muito próximo ao que imaginávamos antes da pandemia".
Campos Neto reiterou que barulho mais recente em torno da questão fiscal se deve à percepção do mercado de que a PEC dos Precatórios e a própria reforma do Imposto de Renda tinham como principais objetivos viabilizar um Bolsa Família mais robusto no que vem.
"Entendo sensibilidade do mercado a esse tema, mas na figura mais ampliada estamos num movimento fiscal que teve alguma melhora", disse, acrescentando que os números estão melhores do que o mercado tem tomado como verdade.
Para Campos Neto, a inflação ajuda na melhor trajetória para a dívida bruta que é hoje esperada para o país, mas há um "bom pedaço" desse movimento que não está ligado ao aumento de preços na economia.
Em apresentação, ele apontou que a perspectiva para a dívida bruta é de que fique em 82,1% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, conforme dados do boletim Focus, colhido pelo BC junto a economistas.
Em novembro do ano passado, a expectativa era de que o indicador chegaria a 95,8% do PIB. Ao decompor essa diferença, o BC atribuiu uma queda de 5,5 pontos à inflação, de 3,8 pontos à redução do déficit primário projetado e de 2,5 pontos pelo PIB real.
O BC considerou ainda uma diminuição de 3,2 na linha "outros", que inclui erros de aproximação, e um aumento de 1,2 ponto pela elevação dos gastos com juros, em meio ao ciclo de aperto monetário que está conduzindo.
INFLAÇÃO
Ainda sobre a inflação, Campos Neto avaliou que o tema é "obviamente uma preocupação", assinalando que o descolamento das expectativas de mercado para o IPCA no próximo ano subiu em relação às projeções da autoridade monetária.
O mercado espera uma inflação de 3,93% para 2022, segundo mediana do último relatório Focus --que reúne projeções de mais de cem economistas--, enquanto o BC estima um IPCA de 3,5% em seu cenário básico.
Campos Neto disse que o BC tem sido o mais transparente possível na comunicação oficial de como enxerga o problema inflacionário, olhando de perto a inflação de serviços.