Money Times- A pergunta sobre o rumo do dólar é das mais difíceis de se responder no mercado financeiro. O destino da moeda mais negociada do mundo é testada diariamente por eventos geopolíticos, monetários, além de outros. A sua relação com o real, contudo, pode ser melhor avaliada com um evento fixo e datado para 2018, como as eleições presidenciais. A outra variável evidente para o ano é a tendência de estreitamento entre o diferencial do juro no Brasil e nos EUA.
As últimas pesquisas eleitorais, que não consideram Lula, mostram uma confusão que aos olhos do mercado financeiro coloca em risco o ataque ao problema fiscal brasileiro em 2019. Neste ano, a moeda americana tem alta de 3% e é negociada a R$ 3,41. A partir do nível mais baixo de 2018, R$ 3,11, a alta chega a quase 10%.
“Estamos no início do processo eleitoral e as pesquisas provavelmente mudarão, mas até muito recentemente achávamos que os mercados estavam sendo complacentes demais com relação ao risco político”, analisa o economista do Scotiabank para América Latina Eduardo Suárez.
Pesquisas
Na pesquisa mais recente do Datafolha, sem Lula, Jair Bolsonaro avança para a primeira posição com 17%, Marina Silva cresce para 15%, Ciro Gomes salta para terceiro com 9%, Joaquim Barbosa empata. Geraldo Alckmin estaciona em 7% e Fernando Haddad conquista apenas 2%. A situação fica praticamente a mesma com a alternativa de Jaques Wagner no PT.
Outro levantamento publicado hoje pelo Poder 360, mostra Bolsonaro com 22%, contra 16% de Barbosa, 8% de Ciro e Marina, 7% de Haddad, 6% de Álvaro Dias e Alckmin. o ex-presidente do STF venceria Bolsonaro no segundo turno das eleições presidenciais deste ano por 37% a 32%.
Suárez analisa que há um potencial de que os eleitores de Lula e Bolsonaro sejam compatíveis, apesar de um estar à direita e outro à esquerda, já que ambos são anti-establishment. “Poderíamos ver os apoiadores irritados de Lula se mobilizando atrás do candidato que consideram mais contra o atual governo, apesar das diferenças ideológicas”, destaca.
Projeções e diferencial de juros
Desta forma, o Scotiabank avalia que possui uma previsão um pouco menos otimista para o real, em parte com a atribuição de uma maior probabilidade de que a história fiscal não melhore em 2019, azedando o sentimento. “Essa também é, em parte, a razão pela qual impulsionamos nosso esperado início para o processo de normalização da taxa de juros do Banco Central (ainda em 2018), já que, dado um repasse de inflação relativamente alto, o BC pode ter que ser cauteloso”, analisa.
Mesmo levando em consideração a chance de que a Selic volte a subir em 2018, o mercado já põe na conta mais um corte do juro para 6,25% ao ano, o que também pesa sobre as expectativas para o dólar, principalmente quando considerado a diferença na comparação com o juro americano, hoje em um patamar entre 1,5% a 1,75%. A tendência é de alta, com pelo menos mais duas elevações este ano.
“O efeito não é imediato, mas uma hora ele chega: uma Selic mais baixa tende, ao longo do tempo, a gerar uma taxa de câmbio mais alta e melhores condições de crédito. O primeiro efeito parece já estar se manifestando: o real mostrou descolamento em relação a outras moedas emergentes, tendo perdido valor em termos relativos nas últimas semanas”, aponta o Santander (SA:SANB11) em um relatório preparado pelo Departamento de Pesquisa Econômica. O banco estima o dólar a R$ 3,50.
O economista-chefe do Itaú (SA:ITUB4), Mário Mesquita, lembra que essa realidade de juro baixo ainda é nova e requer algum tempo de aprendizado para determinar com maior confiança seu impacto sobre o mercado de câmbio.
Ainda assim, em um recente estudo, ele aponta que a redução da Selic “pode ter impacto potencialmente maior sobre a moeda do que em outros momentos em que esse diferencial também caiu, mas de patamares mais elevados – note-se que, mesmo depois da esperada pausa na flexibilização do BC, o diferencial de juros deve seguir se estreitando, por causa da elevação da taxa de juros pelo Fed”, diz.
Ou seja, a considerar as variáveis já conhecidas, o dólar indica alta nos próximos meses.
Por Money Times