Bruxelas, 1º jun (EFE).- O ministro de Exteriores iraniano,
Manouchehr Mottaki, recebeu hoje duras críticas no Parlamento
Europeu, onde os deputados reprovaram a situação dos direitos
humanos do Irã e o programa nuclear deste país.
Mottaki, que se reuniu a portas fechadas com a comissão de
Assuntos Exteriores do Parlamento Europeu, foi recebido por uma
dezena de parlamentares com fotografias de Neda Agha Sultan, a jovem
assassinada durante as manifestações após as eleições iranianas do
ano passado e que se tornou símbolo dos protestos contra o
presidente Mahmoud Ahmadinejad.
"Assassino!", chegou a gritar o conservador britânico Struan
Stevenson, que acrescentou: "é uma vergonha que esteja aqui".
Entre os membros do Parlamento que participaram dos protestos,
estava o líder dos conservadores italianos, Mario Mauro, e o
espanhol do Partido Popular (PP) Alejo Vidal-Quadras, um dos
vice-presidentes da Câmara.
"Acabamos de ter uma sessão vergonhosa", declarou Vidal-Quadras
ao fim do encontro com Mottaki, a quem acusou de faltar
"sistematicamente com a verdade" e "insultar a inteligência" dos
parlamentares europeus.
Para o deputado espanhol, sempre muito crítico com Teerã, a
presença do chanceler iraniano foi uma "exibição de cinismo
repugnante", pois os parlamentares, disse, "sabem" como se violam os
direitos humanos no país e as intenções do programa nuclear.
A deputada liberal holandesa Marietje Schaake assegurou que o
regime iraniano "demonstrou um profundo desprezo pela justiça e
pelos direitos humanos".
"O ministro de Exteriores veio a nós pedindo diálogo, mas
realmente só estava interessado em um monólogo, negando-se a
contestar as perguntas sobre direitos humanos", assinalou.
Segundo fontes parlamentares, todas as falas dos eurodeputados
durante o debate mantiveram um tom crítico, enquanto as de Mottaki
ofereceram a postura oficial do regime iraniano, tanto no que se
refere ao programa nuclear de Teerã quanto em relação à democracia e
aos direitos humanos.
Em sua saída, o ministro iraniano considerou em breves
declarações à imprensa que o encontro tinha sido "em geral bom".
"Tivemos uma discussão franca e, de certo modo, amistosa",
assinalou.
Antes do tenso debate, Mottaki teve reuniões no Parlamento
Europeu, entre elas com o líder do grupo socialista, Martin Schulz,
quem disse em comunicado ter condenado a "inaceitável situação dos
direitos humanos no Irã". Segundo ele, a forma na qual "os políticos
da oposição são tratados é muito preocupante".
"O Irã deve cumprir com os padrões internacionais de direitos
humanos", acrescentou Schulz, que condenou também o fato de que
representantes do Governo de Ahmadinejad ponham em dúvida o direito
de Israel a existir.
A situação do Oriente Médio também foi discutida no debate na
comissão de Assuntos Exteriores, pois Mottaki começou seu discurso
fazendo uma dura condenação do ataque israelense à frota
internacional que levava ajuda humanitária à Faixa de Gaza,
explicaram fontes parlamentares.
O ministro continuará amanhã em Bruxelas, onde deve conceder uma
entrevista coletiva e ter outras reuniões.
No entanto, ele não se reunirá com a chefe da diplomacia
europeia, Catherine Ashton, que não se encontra em Bruxelas, mas que
por meio de um porta-voz reiterou hoje sua disposição em se reunir
com as autoridades iranianas.
A presença de Mottaki na sede das instituições europeias coincide
com o relatório divulgado ontem pela Agência Internacional de
Energia Atômica (AIEA).
Tal relatório reiterou a preocupação da Agência sobre as
possíveis dimensões militares do programa nuclear do Irã, embora
tenha reconhecido que Teerã melhorou alguns aspectos de sua
cooperação técnica com a AIEA.
Enquanto isso, o Conselho de Segurança da ONU continua
trabalhando para um endurecimento das sanções contra o país, com
base em uma proposta apresentada pelos Estados Unidos no último 18
de maio com o apoio da Rússia, China, França, Reino Unido e
Alemanha. EFE