SÃO PAULO (Reuters) - A presença de Fábio Porchat e do diretor Ian SBF – ambos do humorístico "Porta dos Fundos" e autores do roteiro aqui – pode enganar e levar a pensar que "Entre Abelhas" é uma comédia, mas não é o caso. Até há humor, mas o longa é, a princípio, um filme sério.
Porchat é Bruno, um rapaz melancólico que acaba de se separar de sua mulher, Regina (Giovanna Lancellotti), e volta para a casa da mãe (Irene Ravache). Além das dificuldades de readaptação, ele começa a ter outros problemas. Sem qualquer explicação, tropeça "no ar", encontra obstáculos na porta e etc. Logo, o protagonista percebe que está deixando de ver as pessoas.
Numa foto sempre aberta em seu computador, dia após dia vê seus amigos desaparecerem. Quando confessa à sua mãe o que está acontecendo, ela resolve fazer alguns testes, e conta com a ajuda de um atendente (Luis Lobianco, também do "Porta dos Fundos"). A conclusão é a esperada: Bruno está perdendo a capacidade de ver as pessoas.
Essa premissa poderia ser o ponto de partida para uma comédia, mas, como já dito, "Entre Abelhas" tem o drama como seu gênero principal. O filme parece querer filosofar sobre o esmaecimento dos laços de afeto em nosso tempo, sobre como as pessoas estão perdendo o contato umas com as outras a ponto de se tornarem "invisíveis". Enfim, nada de novo, nada que não tenha sido dito antes e de forma melhor.
O problema não é a opção pelo drama, mas a forma como isto se dá. Os personagens são rasos e pouco empáticos. Por que deveríamos nos importar com um sujeito sem graça como Bruno? Não que ele precisasse ser um cara alegre, mas como personagem precisava despertar um sentimento de compaixão e cumplicidade com a plateia. Porchat se esforça – e quase consegue –, mas Bruno é anódino demais.
O lado cômico no filme fica por conta da prostituta vivida por Letícia Lima e do melhor amigo de Bruno, interpretado por Marcos Veras – ambos também do humorístico da Internet/televisão. O personagem deste amigo é uma tentativa forçada de fazer rir, usando o clichê do macho sem limites ou pudor, mas tudo soa tão deslocado que se torna ofensivo.
"Entre Abelhas" parece um filme cheio de boa vontade – de divertir, de falar de nosso tempo e etc – porém mal-articulado, com todas as suas colocações no lugar errado, desperdiçando um mote interessante, que merecia um tratamento mais bem-resolvido.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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