Paco de Campos.
Cuzco (Peru), 6 jul (EFE).- As celebrações pelo centenário da chegada do arqueólogo Hiram Bingham a Machu Picchu - e não seu descobrimento - promoveram diversas atividades em Cuzco cujos preparativos envolveram polêmicas e dúvidas.
Consciente que a cidade de Machu Picchu é o principal atrativo turístico do país (em 2010 cerca de 800 mil turistas visitaram as ruínas), o Governo peruano buscou transformar o centenário em uma celebração em grande estilo.
Cuzco, a antiga capital do Império Inca e a porta de entrada dos turistas à declarada nova maravilha do mundo, é o centro destas celebrações, e por isso se buscou decorar a cidade de 450 mil habitantes em grande estilo, inclusive recomendando aos taxistas que vestissem a partir de hoje terno e gravata.
Além disso, estão previstos atos nos quais se quer mostrar o mais tradicional da cultura andina, desde festas de danças típicas a exibições de lhamas andinas.
Os atos principais terão como cenário a própria cidade, precisamente um dos pontos que trouxe mais problemas aos organizadores.
Durante meses, a Comissão de Alto Nível encarregada das festas esteve planejando inclusive um grande concerto em Machu Picchu, para o qual se falou desde Paul McCartney ao tenor peruano Juan Diego Flórez.
No entanto, e depois que a organização da ONU para a Educação, as Ciências e a Cultura (Unesco), encarregada de supervisionar os monumentos que são patrimônio da Humanidade, pedisse ao Governo que rebaixasse o tom da realização, temendo danos ao lugar, se decidiu realizar algo menos ambicioso e, sobretudo, com menos convidados.
Assim, apenas 200 pessoas poderão presenciar no dia 7 as celebrações centrais o que inclui autoridades e a imprensa do Estado peruano, que serão os encarregados de divulgar fotografias e imagens de vídeo para o resto de jornalistas.
A pressão da Unesco sobre as ruínas de Machu Picchu não é nova, sobretudo relacionado a uma possível saturação turística, uma situação que em junho esteve a ponto de provocar a inclusão da cidadela na lista dos lugares em perigo do organismo da ONU.
Fernando Astete, chefe do Parque Arqueológico de Machu Picchu, organização que protege mais de 38 mil hectares ao redor da cidadela, uma região importante também por sua flora e sua fauna, negou à Agência Efe que existam problemas nas ruínas, mas sim no resto da região.
"Há autoridades locais e aí cada um faz o que lhe parece, também há congressistas que tiram leis para fazer estradas sem consultar e coisas do estilo. O problema é de governabilidade", declarou Astete.
Precisamente, outro dos problemas do sucesso de Machu Picchu é que, segundo a Câmara Nacional de Turismo, 70% das rendas por turismo no Peru deriva da cidadela inca mas esse dinheiro não é investido na região.
Nesta mesma semana, uma comissão de autoridades da província de Urubamba, onde ficam as ruínas, viajou até Lima para reivindicar que o Estado solucione os problemas que a temporada de chuva do ano 2010 deixou na zona, onde várias pontes foram derrubadas e deixaram várias povoações incomunicáveis.
"A população de Urubamba não se beneficia com os ingressos pelas entradas a Machu Picchu, que arrecada quase 300 milhões de sóis (US$ 108 milhões) ao ano e para a zona não há nada", assinalou à Efe o conselheiro por Urubamba no Governo Regional de Cuzco, Marcos Concha.
Outro ponto polêmico das celebrações foi que, enquanto o Estado comemora o centenário da chegada do americano Bingham à cidadela, o centenário do próprio descobrimento pelo agricultor cuzqueño Agustín Lizarraga, em 2002, passou despercebido.
Machu Picchu é, sem dúvida, a imagem do Peru no mundo, algo que o presidente do país, Alan García, tem claro e por isso as celebrações do centenário se transformarão em um de seus últimos atos antes que 28 de julho deixe o poder a seu sucessor, o nacionalista Ollanta Humala. EFE