Por Silvio Cascione
BRASÍLIA (Reuters) - O provável impeachment da presidente Dilma Rousseff não deve causar um choque de confiança ou mais quedas imediatas do dólar frente ao real, mostrou pesquisa da Reuters realizada nesta segunda-feira, diante do cenário de fraca atividade econômica.
A eventual presidência de Michel Temer, que cumpriria o mandato de Dilma até 2018 caso ela seja de fato afastada, provavelmente também será marcada por desemprego alto e déficits do orçamento, segundo a maioria das projeções na pesquisa.
"As coisas nos Brasil são muito mais problemáticas do que parecem", disse economista da 4Cast para a América Latina, Pedro Tuesta. "A mudança de governo é uma condição necessária, mas está de longe de ser suficiente."
Vinte economistas de bancos e consultorias no Brasil e no exterior participaram do levantamento, feito após a aprovação da abertura do processo de impeachment de Dilma pela Câmara dos Deputados na noite passada. Agora, o Senado julgará o processo.
Metade dos consultados espera que a confiança empresarial comece a subir de forma sustentada apenas no quarto trimestre deste ano, e três veem essa recuperação somente em 2017. O desemprego, que subiu com força em meio à recessão, deve começar a cair apenas em 2018 ou depois, segundo 11 dos entrevistados.
"Não será uma retomada da confiança em V," resumiu o economista-chefe da Icatu Vanguarda, Rodrigo Melo.
DÉFICIT À FRENTE
Temer provavelmente não será capaz de reverter o déficit primário do governo neste ano e no próximo, segundo a pesquisa. Onze economistas esperam superávit em 2018, mas sete acreditam que o governo comece a fechar as contas somente num futuro governo, a partir de 2019.
Os resultados da pesquisa contrastam com o otimismo do mercado conforme o processo de impeachment se acelerava no começo do ano. O dólar, que caiu cerca de 10 por cento este ano até sexta-feira passada, deve voltar a subir para terminar 2016 a 3,73 reais, segundo a mediana das expectativas na pesquisa.
Nesta sessão, subiu mais de 2 por cento, a 3,5972 reais.
"As grandes reformas estruturais necessárias não serão aprovadas. Mas há outras medidas fora do Congresso que já seriam positivas", disse o estrategista do Barclays (LON:BARC) Bruno Rovai. "Ele consegue ir empurrando se a inflação cair. Com inflação em baixa, a trajetória da dívida não é explosiva."
Os economistas na pesquisa disseram que Temer provavelmente começaria o governo com cortes de gastos e redução do crédito subsidiado por bancos públicos. Aumentos de impostos também são prováveis, mas podem levar mais tempo enquanto Temer busca consolidar alguma popularidade, alguns economistas disseram.
"A estratégia vai ser primeiro demonstrar que o governo está empenhado em fazer o maior esforço possível para cortar na própria carne, para depois, se necessário, começar a discussão sobre da necessidade de aumento de impostos," disse o estrategista-chefe para América Latina do Mizuho, Luciano Rostagno.