Londres, 24 fev (EFE).- A crise líbia voltou a disparar nesta quinta-feira o preço do petróleo, que atingiu os maiores valores desde agosto de 2008, no momento em que impera no mercado o temor de que a escalada continue se a tensão política se estender para o Irã e a Arábia Saudita.
Em Londres, o petróleo Brent do Mar do Norte - de referência na Europa - tocou a barreira dos US$ 120 o barril.
Às 7h55 no horário local (4h55 de Brasília), o Brent para entrega em abril chegou ao máximo de US$ 119,79 no Intercontinental Exchange Futures, para recuar em seguida para os US$ 115.
O Petróleo Intermediário do Texas (WTI, leve) para entrega em abril subiu 1,06% (US$ 1,08) e às 11h05 (de Brasília) era negociado a US$ 99,86 o barril na Bolsa Mercantil de Nova York (Nymex).
Ao longo da semana, quando a tensão na Líbia se transformou em confronto aberto entre os manifestantes de oposição e o regime de Muammar Kadafi, o petróleo teve valorização de 12%, o que afetou negativamente às bolsas de valores, que temem arrefecimento da recuperação econômica.
Desde o início do ano, a valorização do petróleo nos mercados internacionais de futuros é de 21%, já que no primeiro dia do ano o barril do Brent era vendido a US$ 89.
Nas atuais circunstâncias, tudo parece indicar que a escalada continuará enquanto não for normalizada a situação na Líbia, país membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), dona das maiores reservas de petróleo da África e é o 15º exportador de petróleo.
A produção diária estimada da Líbia é de 1,7 milhão de barris, o que representa 2% da produção mundial.
A crise líbia levou nesta semana às petrolíferas Wintershall, Repsol YPF, Total, Eni e BP a suspender suas atividades de prospecção e exploração de gás e petróleo na Líbia.
Os mercados estão nervosos diante da possibilidade de a situação na Líbia possa afetar significativamente às provisões de petróleo e gás, principalmente para Europa, destino de 80% das exportações de hidrocarbonetos do país norte-africano.
Neste contexto, as bolsas registravam perdas generalizadas, em clima de pessimismo generalizado pela forte alta do preço do petróleo, que faz temer pela recuperação da economia.
Há dois meses não era possível imaginar uma situação dessas, mas os analistas centram de antemão seu olhar na barreira dos US$ 147,5, o preço recorde histórico alcançado pelo Brent em 11 de julho de 2008, principalmente se a tensão política se transferir para o Irã e à Arábia Saudita.
Diante da preocupação nos mercados, a Agência Internacional da Energia (AIE) garantiu nas últimas horas estar "preparada, como sempre, para fornecer petróleo, inclusive, no caso de uma redução de grandes proporções no abastecimento".
A Opep garantiu que tem capacidade para prospectar mais petróleo se for necessário diante de um eventual problema de provisão.
O ministro de Recursos Naturais Não Renováveis equatoriano, Wilson Pastor, declarou que "certos países têm capacidade instalada para abastecer com maior volume de petróleo" e pediu tranquilidade: "vamos acompanhar o que vai acontecer nas próximas semanas".
Em declarações à Agência Efe em Madri, Pastor indicou que "a Opep, com certeza, terá uma reunião se for necessário para estabilizar o mercado", no entanto, só está contemplada a reunião que a organização realizará em junho em Viena.
O ministro da Energia argelino, Youcef Yousfi, afirmou que a Opep está disposta a adotar as medidas necessárias para garantir o mercado do petróleo, que sente os impactos da revolta popular na Líbia.
Sem especificar a natureza das medidas que o cartel pode adotar, Yousfi garantiu que "não haverá interrupção significativa devido aos fatos que estão ocorrendo na Líbia."
A Comissão Europeia expressou sua preocupação pela alta que experimentou o petróleo e lembrou que poderia ter um "efeito negativo" sobre a inflação na eurozona.
Mais contundente foi o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, que declarou que a alta do preço do petróleo representa uma "grave ameaça" à economia de todo o mundo.
A agência de qualificação de riscos Fitch Ratings advertiu que a instabilidade atual no norte da África e no Oriente Médio pode afetar negativamente os perfis creditícios de empresas petrolíferas e gasísticas europeias com interesses nessas regiões.
As quatro empresas em situação mais delicada são, de acordo com a agência ENI Spa (classificação creditícia "AA-", perspectiva negativa), OMV AG ("A-"/negativa), Repsol YPF ("BBB+"/estável) e BG Energy Holdings Ltd ("A+"/estável). EFE