Lisboa, 18 abr (EFE).- A pressão dos mercados e a rejeição da esquerda de Portugal em aceitar o resgate financeiro do país marcaram nesta segunda-feira o primeiro dia das conversas em nível político das autoridades de Lisboa com as instituições internacionais que pretendem conceder os empréstimos.
A equipe conjunta formada pela Comissão Europeia (CE) - órgão executivo da União Europeia (UE) -, Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI) iniciou nesta segunda-feira essa nova fase das negociações, com um encontro com o ministro das Finanças português, Fernando Teixeira dos Santos, e com o governador do Banco de Portugal (banco central), Carlos Costa.
No entanto, as reuniões com os representantes dos três partidos de esquerda de Portugal, previstas também para esta segunda-feira, foram suspensas porque todos eles se recusaram a participar dessa negociação da ajuda externa, ao considerá-la prejudicial para os interesses do país.
Parlamentares do Bloco de Esquerda (BE), Partido Comunista Português (PCP) e Ecologista Os Verdes (PEV) - que juntos representam 31 das 230 cadeiras da Assembleia da República - rejeitaram, desde o início desta crise financeira, a adoção de novos cortes de gastos, medidas de ajuste que presumivelmente deverão ser aplicadas por Lisboa como contrapartida à ajuda financeira.
Esta decisão, no entanto, é contrária aos planos da equipe conjunta da CE, BCE e FMI, conhecida também como "troika", que esperava se reunir com os seis partidos políticos representados no Parlamento unicameral.
Um porta-voz da CE explicou nesta segunda-feira à Agência Efe que o objetivo desses encontros é "ouvir todos os partidos políticos e todos os agentes sociais" para saber em primeira mão "quais são as propostas de cada um" para resolver os problemas econômicos que atingem o país.
Para esta terça-feira e quarta-feira, estão previstas reuniões com sindicatos e entidades patronais, enquanto as reuniões com os três partidos restantes - Socialista (PS), Social-Democrata (PSD) e Popular (CDS-PP) - ainda faltam ser acertadas.
Depois dessas conversas, a "troika" se reunirá com o Governo português, com o qual negociará os termos do resgate financeiro, estimado em cerca de 80 bilhões de euros para os próximos três anos, e as reformas que o país deve realizar em troca da ajuda externa.
A equipe conjunta de Bruxelas e do FMI emitirá então uma "recomendação" que será levada ao Ecofin - órgão da UE composto pelos ministros de Economia dos 27 países-membros do bloco.
Essas mesmas fontes lembraram que os trabalhos realizados pela "troika" na semana passada foram de caráter "técnico", centrados na análise das contas portuguesas e de suas necessidades financeiras.
O primeiro dia das conversas em nível político também foi marcado pela influência dos mercados, devido à asfixiante pressão que eles exercem sobre a dívida soberana de Portugal, incessante há mais de seis meses.
Os juros que castigam os títulos da dívida portuguesa com vencimento em dois e cinco anos voltaram a bater recordes históricos - ambos acima dos 10% - no mercado secundário, o que reflete que as incertezas dos investidores sobre a situação econômica do país não diminuíram, apesar da solicitação de resgate financeiro.
Essa pressão dificulta e encarece o acesso à liquidez por parte de Lisboa, que volta nesta quarta-feira ao mercado primário para tentar emitir 1,750 bilhão de euros em duas linhas de dívida com vencimentos a curto prazo.
O dia também não foi favorável na bolsa de valores, já que o índice PSI-20 sofreu sua queda mais grave desde janeiro, despencando 2,35%, com todas as companhias no terreno negativo e na mesma linha que o restante das bolsas europeias.
A negociação dos termos exatos em que será realizado o resgate financeiro de Portugal ocorre em um ambiente de pré-campanha eleitoral no país, com o Governo socialista do primeiro-ministro José Sócrates atuando de forma interina desde que apresentou sua renúncia, em 23 de março passado.
As pesquisas de opinião constatam como favorito o líder opositor, o social-democrata Pedro Passos Coelho, que nesta segunda-feira voltou a pôr em dúvida os números econômicos divulgados pelo Governo, criticando-o pela demora em solicitar a ajuda externa. EFE