Patricia Souza.
Londres, 13 jul (EFE).- A crescente pressão política pelo escândalo das escutas telefônicas do tabloide "News of the World" freou a ambição de Rupert Murdoch para ampliar sua influência midiática no Reino Unido.
Sua companhia News Corporation anunciou nesta quarta-feira que retira a oferta de 8 bilhões de libras (equivalente 9 milhões de euros) para comprar a totalidade das ações do canal de televisão britânico "BSkyB" horas antes do Parlamento votar contra si.
A moção parlamentar contra essa oferta pública de aquisição, respaldada pelos três grandes partidos britânicos, não era vinculativo, mas exerceu uma forte pressão sobre Murdoch, obrigado a dar marcha à ré em uma operação planejada há 13 meses.
"É muito difícil progredir neste entorno", disse em comunicado o vice-presidente da News Corporation, Chase Carey, ao anunciar a retirada da oferta, apesar da empresa manter sua atual participação de 39% em "BSkyB", um canal pago com 10 milhões de assinantes no Reino Unido.
A operação fracassou pela crescente indignação neste país por causa das escutas telefônicas do "News of the World" e a suposta espionagem de outras publicações de Murdoch, que teriam tido como vítimas, entre outros, ao ex-primeiro-ministro Gordon Brown.
Além de espionar supostamente o histórico financeiro, tributário e médico da família de Brown, que tem um filho com uma doença genética, teriam subornado guardas da segurança da rainha Elizabeth II e grampeado o telefone de uma menina assassinada.
Além de sua participação em "BSkyB", News International, seu grupo midiático no Reino Unido, é dona do "The Times", "The Sunday Times" e "The Sun", o de maior tiragem no país com mais de 2,8 milhões de exemplares.
O jornal dominical mais lido do Reino Unido, "News of the World", publicou sua última edição no último final de semana graças em grande parte a suas agressivas exclusivas, obtidas em algumas ocasiões mediante escutas de mensagens de celular.
Downing Street (residência do primeiro-ministro do Reino Unido) aplaudiu a retirada da aquisição de Rupert Murdoch, que durante a campanha eleitoral apoiou o primeiro-ministro conservador, David Cameron.
O líder trabalhista, Ed Miliband, que se mostrou mais contundente contra a operação empresarial, descreveu o anúncio desta quarta-feira como "a vitória do povo", que disse a Rupert Murdoch que "foi longe demais".
O anúncio da News Corporation ocorreu apenas cinco horas antes que o Parlamento britânico votasse contra a aquisição e quando essa operação já tinha sido levada pelo Governo perante a Comissão de concorrência, o que em todo caso estenderia sua aprovação durante pelo menos seis meses.
Antes da crise das escutas telefônicas do "News of the World", a intenção de Rupert Murdoch de comprar 100% das ações de "BSkyB" já tinha levantado fortes reservas no Reino Unido pelo temor de um monopólio midiático.
Nesta quarta-feira, Cameron pediu que todos que cometeram delitos no escândalo sejam processados, inclusive se for o caso de seu ex-porta-voz, Andy Coulson, que era diretor do "News of the World" quando ocorreram as escutas.
Coulson foi posto em liberdade condicional na sexta-feira passada após ter sido interrogado durante nove horas em uma delegacia de Londres acusado de corrupção e interceptação de telefones enquanto era diretor do jornal. EFE