Wanda Rudich.
Viena, 6 dez (EFE).- Os países produtores de petróleo, sobretudo
os que mais dependem da venda do insumo para gerar receita, temem
que as decisões da cúpula sobre a mudança climática, que começa esta
semana em Copenhague (Dinamarca), causem a eles grandes prejuízos
econômicos.
Oficialmente, não existe uma postura unificada destas nações nem
da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), cujo
secretário-geral, o líbio Abdala El-Badri, estará em Copenhague na
qualidade de observador.
Os países-membros do cartel participarão do encontro
representando a si mesmos, embora o ministro de Energia da Argélia,
Chakib Khelil, tenha afirmado, no último dia 1º, que as nações
estavam analisando uma posição conjunta.
Por enquanto, porém, "não há uma postura comum e coordenada dos
países da Opep para Copenhague", disse à Agência Efe David Wech,
analista da empresa de assessoria e consultoria JBC, especializada
em petróleo.
"Alguns países, sobretudo a Arábia Saudita, cuja receita depende,
em primeiro lugar, das exportações de petróleo, querem receber uma
indenização pela queda na demanda", acrescentou.
A expectativa é que outras nações, como o Equador, tentem
compensar estas perdas por meio dos chamados Mecanismos para um
Desenvolvimento Limpo (MDL). Estabelecidos no Protocolo de Kioto,
eles promovem investimentos em projetos que reduzem as emissões de
gases estufa em países em desenvolvimento.
Dias atrás, o ministro argelino disse que os produtores têm medo
de serem tachados de poluidores. Outra preocupação é com a possível
criação de um "imposto sobre o carbono" no consumo de petróleo e
derivados.
Segundo Khelil, a aplicação desse encargo impactaria
negativamente a demanda por petróleo e gás, causando aos países da
Opep um prejuízo de até US$ 3 bilhões até 2050.
"Os países exportadores de petróleo não são os poluidores, já que
se limitam a vender esta energia", declarou o ministro argelino.
Apesar de os 12 membros da Opep produzirem juntos quase 40% do
petróleo consumido no planeta, os números da Agência Internacional
da Energia (AIE) não apontam os produtores como os principais
poluidores do planeta.
As emissões destas nações são relativamente baixas em comparação
com as do resto do mundo, embora tenham aumentado bastante desde os
anos 1970.
Os 162 milhões de toneladas de CO2 que os 12 países da Opep
liberavam na atmosfera em 1971 viraram mais de 1,5 bilhão de
toneladas em 2007. O crescimento foi de 848%, mas, mesmo assim, os
gases estufa liberados pelo cartel representam apenas 5,24% das
emissões globais.
Em 2007, inclusive, a Opep poluiu menos que a Rússia, que, sem
integrar a organização, emitiu nesse ano 1,579 bilhão de toneladas
de CO2, segundo os cálculos da AIE.
Os analistas da JBC acham "pouco provável" que da cúpula de
Copenhague saia um acordo de cumprimento obrigatório em substituição
ao Protocolo de Kioto, algo também praticamente descartado pelos
organizadores do encontro.
Mas os consultores apostam que os países da Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) farão de tudo para
estabelecer metas de redução de gases poluentes.
De acordo com os analistas, os percentuais que forem definidos
serão responsáveis por "uma redução líquida da demanda por produtos
(derivados de petróleo)" nas nações industrializadas, à medida que
os Governos vão estimular a eficiência energética e os combustíveis
alternativos, sobretudo o etanol e o biodiesel.
Para promover esta substituição, as nações ricas reduzirão as
subvenções às fontes de energia tradicionais e aumentariam os
subsídios aos biocombustíveis.
A JBC também acha que não serão só as metas para frear a mudança
climática que comprometerão a receita dos países produtores de
petróleo. O crescente interesse político dos EUA e da Europa em se
tornarem menos dependente de fontes de energia provenientes de
regiões instáveis também pode contribuir muito para isso. EFE