Ignacio Ortega.
Moscou, 29 jul (EFE).- Um empresário e ex-político russo fundou no coração de Moscou o maior museu do sexo da Europa, um reduto de arte erótica, provocação e liberdade.
"Me proibiram de exercer a política, mas não desejava voltar aos negócios. Queria iniciar um projeto livre, provocador e artístico", afirmou à Agência Efe Aleksandr Donskói, fundador do museu Tochka G (Ponto G).
Prefeito da cidade de Arjanguelsk durante oito anos, Donskói declarou que a "Rússia não é um país livre" nem política nem emocionalmente e que a crescente influência da Igreja Ortodoxa devolveu a repressão moral à sociedade.
"O vazio ideológico deixado pelo comunismo foi coberto pela religião. O sexo continua sendo tabu. O povo ainda se envergonha ao falar disso e é proibido vender artigos eróticos nas lojas", comentou.
Por isso, Donskói, que foi preso após apresentar em 2006 sua candidatura às eleições presidenciais sem consultar o Kremlin, decidiu investir mais de US$ 2 milhões na abertura do museu a poucos metros da rua Arbat, uma das mais movimentadas da capital russa.
"Não fazemos propaganda, só distribuímos panfletos pela rua. Mesmo assim, a cada dia vem mais gente. Já vieram quase 20 mil pessoas em apenas um mês. Deixamos que as pessoas entrem e fotografem tudo", disse.
Donskói acredita que uma das razões do sucesso de Tochka G é a conjugação natural de museu de arte, loja erótica e café, onde são realizados seminários sexuais, em um ambiente nada sinistro ou clandestino.
"Para criar o museu contei com a ajuda de colecionadores e especialistas de vários países. Então, um famoso fotógrafo erótico holandês me disse que este era o maior museu do tipo da Europa e, possivelmente, do mundo", considerou.
O museu, que tem 800 metros quadrados, dos quais 300 pertencem à loja, inclui mais de três mil peças, desde pinturas a fotografias, instalações, esculturas, porcelanas e pênis de todos os tamanhos - mas uma obra se destaca de todo o resto.
É o quadro "Wrestling", no qual se vê o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, e o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, nus e equipados com gigantescos pênis coloridos que se assemelham a mísseis balísticos.
"EUA e Rússia sempre estão competindo, por isso há um ditado na Rússia que diz que os órgãos sexuais de ambas potências é que deviam se reconciliar. Por isso, Putin e Obama selam a paz com seus pênis", ironizou Donskói.
Outra das estrelas da exposição são as bonecas infláveis, tanto as "Real Dolls", as mais caras do mundo e que parecem feitas de carne e osso, como as selvagens esculturas desenhadas pelo argentino Martín di Girolamo.
No entanto, a obra preferida de Donskói é um morcego, que parece disposto a iniciar o ato sexual a qualquer momento, algo já consumado pelas figuras japonesas de porcelana e pelas peças de um singular tabuleiro de xadrez.
"Nunca tínhamos visto nada igual. É como um autêntico museu de arte moderna", declararam à Efe Nadia e Sveta, duas jovens universitárias.
O gênio surrealista espanhol Salvador Dalí, que teve uma relação doentia com o sexo, é o protagonista de uma das telas expostas, enquanto outras retratam estrelas mundiais da música e do cinema.
"Na União Soviética não há sexo. E estamos categoricamente contra isso", considerou uma confusa mulher durante um pacato programa de televisão da era soviética reproduzido em um vídeo que causa risos no público.
A entrada à loja, que está escoltada por dois pênis de mais de dois metros de altura, é livre, enquanto o visitante do museu deve pagar 8 euros." O que eu mais gostei foi a loja. Há muita variedade de artigos. Faz muito tempo que Moscou necessitava um lugar como este", declarou Kolia, que visitou o museu acompanhado de sua mulher.
Seja como for, Donskói espera que Tochka G contribua para agitar as mentes dos russos, que, na sua opinião, necessitam mais sexo e menos propaganda. EFE