Teerã, 28 jun (EFE).- Os candidatos reformistas do Irã mantêm seu
desafio ao Conselho de Guardiães da Revolução, que hoje encerrou a
prorrogação concedida pelo líder supremo do país, aiatolá Ali
Khamenei, para a apresentação de alegações pelas supostas
irregularidades denunciadas pela oposição.
Após a negativa do principal candidato derrotado, Mir Hussein
Moussavi, o também candidato reformista Mehdi Karrubi rejeitou neste
domingo participar da comissão especial proposta pelos Guardiães,
que ainda não validaram os resultados do pleito.
Da mesma forma que o ex-primeiro-ministro, Karrubí ressaltou que,
para que seja efetiva, a comissão deve examinar todos os pontos do
processo eleitoral, incluindo a onda de violência suscitada após a
reeleição do presidente, Mahmoud Ahmadinejad.
"Só participarei se o Conselho de Guardiães admitir uma comissão
totalmente independente que tenha autoridade sobre todos os aspectos
do pleito", afirmou.
Doze horas antes, Moussavi também já tinha rejeitado a comissão
ao considerar que esta não podia ser imparcial, pedindo novamente
que o pleito fosse repetido.
O ex-primeiro-ministro, que enviou uma carta ao citado conselho,
insistiu que uma comissão deve ser formada, mas um órgão
"independente, aceito por todos os candidatos e apoiado pelos
principais clérigos, e que investigue também os protestos".
O terceiro candidato derrotado, o conservador Mohsen Rezaei,
anunciou ontem sua disposição de colaborar com os Guardiães, embora
tenha declarado que só o faria se os outros dois aspirantes
cooperassem.
A polêmica reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad suscitou
uma onda de protestos e distúrbios no Irã, deixando como saldo cerca
de 20 mortos, segundo fontes oficiais, e mais de mil detenções.
Além disso, trouxe à luz divergências entre os principais
integrantes do regime, sobretudo entre Khamenei - que apoia
Ahmadinejad - e o ex-presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani,
considerado principal suporte de Moussavi.
Hoje, Rafsanjani elogiou "a coragem do líder supremo" ao ampliar
o prazo para a apresentação de reivindicações, e afirmou que os
distúrbios fazem parte de "uma complexa conspiração urdida por
mercenários para dividir o povo iraniano".
Mais preciso e direto foi Khamenei, que voltou a acusar os países
ocidentais de querer se envolver nos assuntos internos do Irã.
Em declarações divulgadas pela imprensa local, a máxima
autoridade do Irã inclusive chegou a classificar como "idiotas"
dirigentes estrangeiros.
"Alguns responsáveis americanos e europeus, com suas palavras
idiotas sobre o Irã, falam como se não houvesse mais problemas e o
Irã fosse o único com problemas a resolver", explicou.
Desde que os distúrbios tiveram início, o regime de Teerã acusou
o Ocidente, e especialmente Estados Unidos, Reino Unido, França e
Alemanha, de tentar promover o que chamou de revolução de veludo.
Foi particularmente duro com Londres - atacou o Governo britânico
de ter sido responsável direto pelos protestos.
Em um novo capítulo das tensas relações entre ambos os
territórios, a Polícia iraniana deteve neste domingo oito empregados
locais da embaixada britânica em Teerã, sob a acusação de
participação nas mobilizações.
Segundo o ministro da Inteligência iraniano, Gholam Hossein
Mohseni Ejei, os empregados foram enviados pela própria delegação
britânica às passeatas, para "recopilar informação e levar certas
ideias aos manifestantes e à sociedade" local.
"A embaixada britânica desempenhou um papel crucial nos recentes
distúrbios por meio dos meios de comunicação, mas também de seus
funcionários", completou o ministro, em declarações reproduzidas
pela agência de notícias estatal "Irna".
"Temos fotos e vídeos de certos empregados da embaixada britânica
nas manifestações", acrescentou Ejei, que não detalhou quantas
pessoas tinham sido liberadas.
Horas antes, o ministro de Assuntos Exteriores britânico, David
Miliband, denunciou a detenção como "um ato de assédio e intimidação
totalmente inaceitável", exigindo a imediata libertação dos detidos.
Na semana passada, o Ministério de Exteriores do Irã confirmou a
expulsão de dois diplomatas britânicos acusados de interferir nos
assuntos internos do país asiático.
Amanhã deverão deixar Teerã o primeiro e o segundo-secretário do
corpo diplomático britânico.
Em uma decisão recíproca, o primeiro-ministro do Reino Unido,
Gordon Brown, anunciou a expulsão de Londres de outros dois
diplomatas iranianos.
Há uma semana, o Irã expulsou o correspondente permanente em
Teerã da "BBC", John Leyne, acusado de instigar os distúrbios com
suas informações. EFE