Por Walter Bianchi
BUENOS AIRES (Reuters) - A reviravolta na definição dos candidatos à Presidência da Argentina, que teve a coalizão governista peronista boicotando um candidato de esquerda em favor de um ministro da Economia de centro, impulsionou os mercados locais nesta segunda-feira, embora analistas tenham dito que também acrescentou um novo fator às negociações com o FMI.
O bloco peronista União pela Pátria disse na sexta-feira que o ministro da Economia, Sergio Massa, será a única indicação presidencial da coalizão, frustrando a candidatura de um aliado próximo da vice-presidente Cristina Kirchner.
Com outros favoritos da oposição conservadora e da extrema-direita, a decisão significa que o próximo presidente da Argentina, a ser escolhido nas eleições de outubro, provavelmente será mais favorável ao mercado, um impulso para investidores duramente atingidos no país endividado.
"O mercado local pode ver com bons olhos que o cenário eleitoral agora tem candidatos presidenciais moderados, pró-mercado e que conhecem os investidores", disse Javier Timerman, do Adcap Grupo Financiero, alertando que muitos ainda têm dúvidas.
Nesta segunda-feira, os títulos soberanos subiam em média cerca de 4% com as notícias, enquanto o índice S&P Merval saltou no início das negociações.
Os títulos soberanos da Argentina permanecem em território problemático em torno de 30-35 centavos de dólar após anos de reestruturações de dívidas locais e internacionais e um novo acordo de 44 bilhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para substituir um programa fracassado.
O economista da Fundcorp, Roberto Geretto, disse que a candidatura de Massa torna "menos provável uma ruptura com o FMI ou uma radicalização da política econômica no curto prazo" e sinalizou uma "perda de poder" para a ala populista da vice-presidente.
Outros analistas, no entanto, disseram que isso poderá adicionar uma dimensão política extra às negociações em andamento entre a Argentina e o FMI para acelerar os desembolsos do credor e facilitar as metas econômicas vinculadas ao acordo. Massa tem liderado as negociações do país na esperança de chegar a um acordo nesta semana.
"É melhor negociar com um ministro do que com um candidato", disse Héctor Torres, ex-representante argentino do FMI.
"É mais previsível que o ministro esteja pronto para cumprir os compromissos do que um candidato, cuja intenção é ganhar as eleições e coloca isso acima de tudo", acrescentou Torres.
Outros disseram que será um ato de equilíbrio complicado para Massa como ministro da Economia e candidato, já que ele luta contra a inflação de 114%, reservas internacionais em queda e a pressão para realizar gastos com níveis de pobreza em torno de 40%.