Wanda Rudich.
Riad, 22 fev (EFE).- Arábia Saudita tentou nesta terça-feira tranquilizar o mercado do petróleo, atingido pela grave crise da Líbia, assegurando que seu país e a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) compensarão qualquer falta de provisões, no entanto não veem necessidade de fazê-lo.
"Arábia Saudita está disposta a compensar qualquer carência que ocorrer no mundo", afirmou o ministro do Petróleo saudita, Ali Al Naimi, em entrevista coletiva em Riad, no final de uma reunião extraordinária do Fórum Internacional de Energia (FIE).
"Não há escassez em termos de oferta. Todos reconhecem que os estoques estão em um nível muito confortável" e que a Opep, e especialmente Arábia Saudita, "tem possibilidade de reagir", insistiu.
Em Londres o barril do Brent superou nesta terça-feira os US$ 108, perante US$ 97 anteriores da explosão da revolução no Egito no final de janeiro.
O Petróleo Intermediário do Texas (WTI, leve) disparou quase 8% nesta terça-feira na abertura da Bolsa Mercantil de Nova York e seu preço estava em US$ 93, enquanto o barril de referência da Opep superou os US$ 100.
Os mercados petroleiros já estavam nervosos com a revolta popular no Egito, que da mesma forma que a da Tunísia, cumulou as aspirações dos manifestantes de derrubar a seus respectivos regimes.
Os temores a um efeito dominó na região que pudesse afetar às provisões de petróleo e gás se viram agora justificados com o cenário na Líbia, onde há cada vez mais notícias sobre problemas no setor.
Nesta terça-feira, a Repsol YPF informou à Agência Efe que suspendeu suas operações na Líbia "perante a situação de violência e incerteza". A companhia petrolífera hispano-argentina está presente ali desde a década de 1970 e conta com direitos de exploração sobre nove blocos, oito de prospecção e um de produção.
Por sua vez, o grupo energético italiano Eni anunciou que suspendeu temporariamente a provisão de gás da Líbia pelo gasoduto Greenstream, enquanto continuava a repatriação de alguns de seus empregados e familiares.
Também outras petrolíferas, como BP e Statoil, começaram já na segunda-feira a evacuar seus funcionários expatriados perante a crescente tensão na Líbia.
No último relatório mensal da Opep, Líbia ocupava a nona posição no nível de produção, na frente da Argélia, Catar e Equador, com 1,6 milhões barris diários (mb/d), muito longe da Arábia Saudita, que bombeia 8 mb/d.
Em Nova York, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) decidiu realizar nesta segunda-feira uma reunião aberta a todos os membros do organismo internacional sobre a situação da Líbia e escutar os representantes desse país, embora ainda se desconheça quem intervirá.
Fontes diplomáticas indicaram que paralelamente se negocia que o Conselho de Segurança, que este mês preside Brasil, emita algum tipo de declaração sobre a repressão lançada contra os manifestantes líbios que, segundo diferentes fontes, poderia ter causado 300 a 400 mortes.
Dada à situação, a mensagem de tranquilidade enviada pela Arábia Saudita e outros parceiros de Riad, é "nulo", disse à Agência Efe um analista que pediu o anonimato, após ressaltar o temor que o preço a cima de US$ 100 por barril por um período prolongado de tempo prejudicará a economia mundial.
No entanto, Naimi insistiu que a situação atual é muito diferente da de 2008, quando todos os produtores bombeavam ao máximo sua capacidade, pois agora o reino wahhabista pode aumentar em pouco tempo sua produção em até 4,5 mb/d.
Mas "não há nenhuma razão para apressar a provisão do mercado", disse.
Coincidiu assim com seu colega emiratí, Mohammed bin Dhaen al-Hamli, que disse, aludindo à Líbia, que "o mercado está bem abastecido, e estamos vigiando a situação. Se o mercado necessita mais, meu país ficará feliz de fornecê-lo".
Estimou que no total a Opep tem "talvez cerca de 5 mbd" de capacidade excedente que poderia usar em caso necessário e que por enquanto a próxima reunião prevista do grupo está convocada para junho em Viena.
Por outro lado, a Agência Internacional da Energia (AIE), reconheceu sua "preocupação" e afirmou que está vigiando estreitamente a situação, segundo seu diretor-executivo, Nobuo Tanaka.
"Estamos preocupados pela situação na Líbia. Nós ainda não sabemos que tipo de impacto, que tipo de interrupção pode ter. Estamos vigiando de perto a situação, porque o mercado está mais ajustado. Portanto uma interrupção pequena pode criar um pico no preço", assinalou.
Em caso de urgência, os países da OCDE podem recorrer a 1,6 mil mb armazenados em suas reservas estratégicas de petróleo, assegurou. EFE