Bernardo Suárez Indart.
Moscou, 2 mar (EFE).- A Rússia chega às eleições presidenciais do próximo domingo em um clima de efervescência política, mas com uma economia estável, que por enquanto se mostra capaz de resistir às turbulências mundiais.
A estabilidade econômica é exatamente o grande trunfo do primeiro-ministro Vladimir Putin, o favorito do pleito, para voltar ao Kremlin após um parêntese de quatro anos à frente do governo.
Para muitos, os números aprovam a gestão do homem forte da Rússia nos últimos 12 anos: no ano passado a economia da Rússia se expandiu 4,2%, as receitas efetivas da população aumentaram 5,9% e as estatísticas oficiais cifraram o desemprego em apenas 6,6%.
No entanto, este panorama quase idílico, em comparação com algumas economias ocidentais, se vê ameaçado pelo crescente descontentamento de alguns setores da população com o sistema político edificado por Putin desde que chegou ao poder, no dia 31 de dezembro de 2000.
A insatisfação se traduziu em grandes protestos, os maiores nos últimos 20 anos, depois das eleições parlamentares de dezembro passado, que foram qualificadas de fraudulentas por todas as forças opositoras.
A magnitude das manifestações opositoras levou o presidente em fim de mandato, Dmitri Medvedev, a pôr sobre a mesa um projeto de reforma política que inclui a liberalização das normas para a inscrição dos partidos políticos e emendas às leis eleitorais.
Embora o atual chefe do Kremlin tenha declarado seu propósito de aprovar esses projetos antes de deixar o cargo, no próximo mês de maio, essas reformas podem ser deixadas de lado se Putin voltar ao comando do país.
O ex-presidente soviético Mikhail Gorbachev aconselhou Putin a abandonar o poder e não vacilou em qualificar de "absolutismo" o sistema político imperante no país.
"Já cumpriu três mandatos: dois como presidente, um como primeiro-ministro, já basta", disse Gorbachev em declarações a uma emissora de rádio de Moscou.
O questionamento dos resultados eleitorais é uma verdadeira bomba de ação retardada contra a legitimidade das instituições do sistema político russo, e as autoridades do Kremlin estão cientes deste fato.
"O candidato Putin precisa que estas eleições sejam as mais limpas possíveis, já que deseja um mandato para a mudança e isso é possível apenas se as pessoas votarem nele realmente", ressaltou o vice-primeiro-ministro, Ígor Shuválov.
O número dois do Governo russo admitiu que no país há um "grande descontentamento" com os resultados das eleições parlamentares de dezembro.
Os opositores, que denunciam que a campanha presidencial esteve marcada pelo predomínio arrasador de Putin nos meios de comunicação, já solicitaram as permissões para manifestar-se imediatamente depois das eleições de domingo.
Com uma retórica própria dos tempos da Guerra Fria, o Kremlin denunciou que os descontentamentos são financiados por estrangeiros e apelou ao patriotismo para enfrentar os que tentam "solapar a estabilidade da Rússia".
Do outro lado, a oposição considera que o maior perigo para a estabilidade da Rússia está em seu sistema político, desenhado à medida de Putin, na falta de reformas econômicas estruturais e na corrupção. EFE