Por Isabel Versiani
BRASÍLIA (Reuters) - O Brasil registrou em setembro o sexto mês seguido de superávit em suas transações correntes, de 2,320 bilhões de dólares, levando o déficit em 12 meses a cair a 1,37% do Produto Interno Bruto (PIB), menor patamar desde abril de 2018, refletindo o esfriamento da economia no país e no mundo em meio à pandemia da Covid-19.
Apesar do contraste com o déficit de 2,727 bilhões de dólares de setembro de 2019, o resultado do mês passado, divulgado nesta sexta-feira pelo Banco Central, veio abaixo do superávit de 3,00 bilhões de dólares esperado por analistas em pesquisa Reuters.
Já os investimentos diretos no país (IDP) totalizaram 1,6 bilhão de dólares, bem abaixo dos 6 bilhões de dólares registrados em setembro do ano passado e também inferior à expectativa de 2,1 bilhões de dólares apontada em pesquisa Reuters.
A pandemia do coronavírus impactou mais fortemente as importações do Brasil do que as exportações e, como resultado, os saldos comerciais do país têm crescido nos últimos meses.
Também tem havido diminuição dos déficits nas contas de comercialização de serviços com o exterior e das remessas de lucros e dividendos por empresas estrangeiras atuando no país, sob o impacto da crise com o surto de Covid-19 na economia.
Como resultado desses movimentos, o saldo em transações correntes do país tem melhorado, com redução do déficit. Por outro lado, os investimentos estrangeiros diretos no país (IDP) têm caído fortemente. No acumulado em 12, meses, o fluxo do IDP soma 3,31% do PIB, menor nível desde julho de 2018, quando estava nesse mesmo patamar.
Para o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, a redução desse fluxo é um retrato do adiamento de projetos de investimento em meio a todas as incertezas trazidas pela pandemia.
"A continuidade desse investimento ocorreu, mas a um ritmo menor", afirmou Rocha a jornalistas, ressaltando que a paralisação das atividades por causa do coronavírus se prolongou mais do que o inicialmente previsto.
Nos nove primeiros meses do ano, o déficit em transações correntes foi de 6,476 bilhões de dólares, bem abaixo dos 36,748 bilhões de dólares registrados em igual período do ano passado. Já o IDP somou 28,554 bilhões de dólares até setembro, ante 52,032 bilhões de dólares no mesmo período em 2019.
Para outubro, o BC projetou superávit em transações correntes de 1,2 bilhão de dólares, com IDP de 1,0 bilhão de dólares. Até o dia 20, o fluxo de investimento estrangeiro era positivo em 559 milhões de dólares, segundo a autoridade monetária.
A expectativa do BC é que o país feche o ano com déficit em transações correntes de 10,2 bilhões de dólares. Já para o IDP, a projeção oficial, atualizada no final de setembro e que hoje parece excessivamente otimista, é que o fluxo fique positivo em 50 bilhões de dólares.
PORTFÓLIO
O fluxo de investimento estrangeiro em ações, fundos e títulos de dívida negociados no mercado doméstico ficou positivo em setembro pelo quarto mês seguido, em 1,207 bilhão de dólares. Em outubro, o BC computou a entrada de 2,799 bilhões de dólares nesses ativos até o dia 20.
No acumulado do ano, no entanto, os investimentos em portfólio no país ainda registram uma saída elevada, de 27 bilhões de dólares, sob o impacto de uma retirada de 22 bilhões de dólares do país em março, quando a economia global sofreu uma paralisação geral com o fechamento das atividades por causa da pandemia da Covid-19.