Tailândia extraditará para os EUA o "Mercador da Morte"

Publicado 20.08.2010, 09:00

Miguel F. Rovira.

Bangcoc, 20 ago (EFE).- Um tribunal da Tailândia autorizou nesta sexta-feira a extradição aos Estados Unidos do suposto traficante de armas russo Viktor Bout, conhecido como "Mercador da Morte", para ser julgado por terrorismo e provisão de armamento a grupos de várias partes do mundo, incluindo a guerrilha colombiana e Al Qaeda.

A decisão do Tribunal de Apelações é celebrada por Washington, que desde a detenção de Bout em Bangcoc, em 2008, e mediante uma operação assessorada por agentes americanos, pressionou a Tailândia e esgotou as vias judiciais para conseguir sua entrega.

Em agosto de 2009, um tribunal ordinário rejeitou a solicitação de extradição realizada pelos EUA com base em que Tailândia considerava as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) um movimento político e não um grupo terrorista.

Quase imediatamente, os EUA apelaram contra essa decisão e dois meses depois enviou a Bangcoc o procurador-geral adjunto, David Ogen, com a missão de reconduzir o caso, uma ação que a Rússia considerou "inaceitável" por meio de um comunicado oficial.

"O tribunal decidiu que permaneça detido para ser extraditado aos Estados Unidos", disse o juiz Jitaporn Patanasiri, ao ler a decisão.

Nas conclusões, o Tribunal de Apelações fixou um prazo de três meses para extraditar ou pôr Bout em liberdade, e expôs seu desacordo com o argumento defendido pela defesa que o caso era político.

Bout, de 43 anos e que durante o processo manteve sua inocência e qualificou as acusações de "montagem", foi conduzido da prisão de máxima segurança até o tribunal com correntes nos tornozelos.

Este ex-oficial dos serviços secretos de seu país não pôde conter o choro após conhecer a decisão, emitida em uma sala repleta de público, inclusive com a presença de sua mulher e filha, assim como funcionários das embaixadas da Rússia e dos EUA.

O advogado tailandês do suposto traficante de armas, Lak Nittiwattanawicha, declarou aos jornalistas no final da audiência que a defesa tentará bloquear a extradição e para isso pedirá a intervenção do Governo da Tailândia.

O Departamento de Justiça dos EUA acusa Bout de operações para a venda às Farc de cerca de 800 mísseis terra-ar, cinco mil fuzis de assalto AK-47, explosivos C-4 e minas anti-pessoais, entre outras armas avaliadas em vários milhões de dólares.

Segundo o FBI, Bout também tentou adquirir uma bateria antiaérea e conspirou para assassinar cidadãos americanos.

Além disso, em fevereiro deste ano as autoridades americanas acusaram Bout de tentar adquirir de forma ilegal dois aviões nos EUA, fraude e lavagem de dinheiro.

Os serviços de inteligência britânicos e americanos sustentam que Bout comandou durante anos uma das maiores redes de contrabando de armas, formada por um grupo de empresas para as quais trabalhavam cerca de 300 pessoas que realizavam essa atividade com o apoio de cerca de 40 aviões, a maior parte Antonov de fabricação russa.

Bout, cujo nome aparece em vários relatórios da ONU por transgredir sanções internacionais e embargos de armas, foi acusado de fazer negócios com regimes e grupos da África e da Ásia, com ditadores como o liberiano Charles Taylor e o líbio Muammar Kadafi.

Também no Afeganistão, em meados da década de 90, Bout vendeu armas de forma simultânea às forças da Aliança do Norte, assim como aos talibãs e seus aliados da Al Qaeda.

Sua fama inspirou o filme de Hollywood "O Senhor das Armas", cujo protagonista, Nicholas Cage, relata orgulhoso que aproveitou a queda da União Soviética para ganhar muito dinheiro com os arsenais que adquiriu mediante subornos a generais corruptos. EFE

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