Miguel F. Rovira.
Bangcoc, 20 ago (EFE).- Um tribunal da Tailândia autorizou nesta
sexta-feira a extradição aos Estados Unidos do suposto traficante de
armas russo Viktor Bout, conhecido como "Mercador da Morte", para
ser julgado por terrorismo e provisão de armamento a grupos de
várias partes do mundo, incluindo a guerrilha colombiana e Al Qaeda.
A decisão do Tribunal de Apelações é celebrada por Washington,
que desde a detenção de Bout em Bangcoc, em 2008, e mediante uma
operação assessorada por agentes americanos, pressionou a Tailândia
e esgotou as vias judiciais para conseguir sua entrega.
Em agosto de 2009, um tribunal ordinário rejeitou a solicitação
de extradição realizada pelos EUA com base em que Tailândia
considerava as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) um
movimento político e não um grupo terrorista.
Quase imediatamente, os EUA apelaram contra essa decisão e dois
meses depois enviou a Bangcoc o procurador-geral adjunto, David
Ogen, com a missão de reconduzir o caso, uma ação que a Rússia
considerou "inaceitável" por meio de um comunicado oficial.
"O tribunal decidiu que permaneça detido para ser extraditado aos
Estados Unidos", disse o juiz Jitaporn Patanasiri, ao ler a decisão.
Nas conclusões, o Tribunal de Apelações fixou um prazo de três
meses para extraditar ou pôr Bout em liberdade, e expôs seu
desacordo com o argumento defendido pela defesa que o caso era
político.
Bout, de 43 anos e que durante o processo manteve sua inocência e
qualificou as acusações de "montagem", foi conduzido da prisão de
máxima segurança até o tribunal com correntes nos tornozelos.
Este ex-oficial dos serviços secretos de seu país não pôde conter
o choro após conhecer a decisão, emitida em uma sala repleta de
público, inclusive com a presença de sua mulher e filha, assim como
funcionários das embaixadas da Rússia e dos EUA.
O advogado tailandês do suposto traficante de armas, Lak
Nittiwattanawicha, declarou aos jornalistas no final da audiência
que a defesa tentará bloquear a extradição e para isso pedirá a
intervenção do Governo da Tailândia.
O Departamento de Justiça dos EUA acusa Bout de operações para a
venda às Farc de cerca de 800 mísseis terra-ar, cinco mil fuzis de
assalto AK-47, explosivos C-4 e minas anti-pessoais, entre outras
armas avaliadas em vários milhões de dólares.
Segundo o FBI, Bout também tentou adquirir uma bateria antiaérea
e conspirou para assassinar cidadãos americanos.
Além disso, em fevereiro deste ano as autoridades americanas
acusaram Bout de tentar adquirir de forma ilegal dois aviões nos
EUA, fraude e lavagem de dinheiro.
Os serviços de inteligência britânicos e americanos sustentam que
Bout comandou durante anos uma das maiores redes de contrabando de
armas, formada por um grupo de empresas para as quais trabalhavam
cerca de 300 pessoas que realizavam essa atividade com o apoio de
cerca de 40 aviões, a maior parte Antonov de fabricação russa.
Bout, cujo nome aparece em vários relatórios da ONU por
transgredir sanções internacionais e embargos de armas, foi acusado
de fazer negócios com regimes e grupos da África e da Ásia, com
ditadores como o liberiano Charles Taylor e o líbio Muammar Kadafi.
Também no Afeganistão, em meados da década de 90, Bout vendeu
armas de forma simultânea às forças da Aliança do Norte, assim como
aos talibãs e seus aliados da Al Qaeda.
Sua fama inspirou o filme de Hollywood "O Senhor das Armas", cujo
protagonista, Nicholas Cage, relata orgulhoso que aproveitou a queda
da União Soviética para ganhar muito dinheiro com os arsenais que
adquiriu mediante subornos a generais corruptos. EFE