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Tailândia nega extradição do "Mercador da Morte" aos Estados Unidos

Publicado 11.08.2009, 10:07
Atualizado 11.08.2009, 10:35

Bangcoc, 11 ago (EFE).- Um tribunal da Tailândia negou hoje a solicitação dos Estados Unidos para extraditar o suposto traficante de armas de origem russa Viktor Bout, conhecido como o "Mercador da Morte" e acusado de vários crimes de terrorismo.

"As acusações apresentadas pelos EUA não podem ser julgadas sob a lei tailandesa", argumentou na decisão (judicial) o juiz Jitakorn Patanasiri, que deu às autoridades norte-americanas um prazo de 72 horas para decidir se recorrem contra o veredito perante a Suprema Corte do país.

Durante esse período, Bout, de 42 anos, permanecerá detido, mas com o fim do prazo, será posto em liberdade e a sentença não poderá apresentar-se num novo recurso de apelação.

No processo, Washington acusava Bout de envolvimento em operações para vender às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) 800 mísseis, 5 mil fuzis AK-47, explosivos C-4 e minas, entre outras armas orçadas na casa dos milhões de dólares.

Segundo o Departamento de Justiça americano, Bout também tentou adquirir uma bateria antiaérea e conspirou para assassinar cidadãos dos EUA, onde poderia ser condenado a prisão perpétua.

Mas dando razão aos advogados do "Mercador da Morte", o magistrado tailandês indicou que a natureza do processo foi mais política que judicial e lembrou que as Farc não são consideradas uma organização terrorista por Tailândia.

A guerrilha colombiana "está lutando por uma causa política e não é uma gangue criminosa", apontou o juiz Patanasiri, em uma sentença que poderia causar danos às relações bilaterais entre Colômbia e Tailândia, segundo analistas.

A Colômbia fechou há anos sua embaixada na Tailândia por problemas econômicos.

Viktor Bout, detido em Bangcoc desde março de 2008, sempre insistiu que sua prisão foi ilegal, que as acusações apresentadas contra ele eram falsas e que todo o processo foi uma operação política organizada pelo Governo colombiano para debilitar as Farc.

Durante o julgamento, os advogados de defesa alegaram que o acusado não cometeu delito algum na Tailândia e que os EUA não têm autoridade sobre as atividades do seu cliente em outro país, que foi detido em uma operação feita por agentes americanos em colaboração com as autoridades do país asiático.

"Não fiz nada de errado na Tailândia. Nunca estive na Colômbia nem Estados Unidos", declarou Bout em uma das audiências.

O ex-piloto e agente do serviço secreto soviético (KGB), que afirma ser um empresário, fala seis idiomas e é conhecido por até oito nomes diferentes.

Inicialmente, ia ser julgado em Bangcoc por crime de apoio ao terrorismo, que tem pena de no máximo dez anos de prisão, mas a Promotoria tailandesa retirou as acusações por falta de provas.

O caso também despertou o interesse da Rússia, que denunciou pressões norte-americanas para que Bout fosse extraditado aos EUA e deu apoio legal durante o julgamento ao "homem de negócios", como é conhecido em Moscou.

Nascido no Tajiquistão e cuja vida inspirou o filme de Hollywood "O Senhor da Guerra", ele passou quase um ano e meio encarcerado em uma prisão de segurança máxima da capital tailandesa, na qual afirma ter sido tratado "pior que em Guantánamo".

Segundo serviços de inteligência ocidentais, o suposto traficante aproveitou a queda da União Soviética para comprar de generais corruptos, a baixo preço, arsenais inteiros na Bulgária, Moldávia e Ucrânia para vendê-los em zonas de conflito, principalmente na África.

O "Mercador da Morte", como foi chamado pelo ex-ministro de Assuntos Exteriores britânico Peter Hain, se transformou no principal fornecedor para as guerras em Serra Leoa, Angola e República Democrática do Congo.

A Anistia Internacional denuncia que ele chegou a operar uma frota de mais de cinquenta aviões que transportava armas por toda África, onde chegou inclusive a burlar um embargo internacional para fazer negócios com Charles Taylor, ex-presidente da Libéria, que atualmente está sendo julgado em Haia por crimes de guerra. EFE

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