(embargada até às 14h de Brasília)
Virgínia Hebrero.
Genebra, 7 set (EFE).- A atual crise econômica mundial é tão
grave que não será possível nos próximos anos uma recuperação até os
níveis prévios a esta, apesar da melhora de alguns indicadores
financeiros no primeiro trimestre de 2009.
Assim adverte a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e
Desenvolvimento (Unctad) em seu relatório 2009 dedicado à crise, no
qual destaca que foi a excessiva liberalização e falta de regulação
dos mercados financeiros seu principal causa.
O estudo constata que os "brotos verdes" que se deram em alguns
países no primeiro trimestre "não significam que o inverno da
economia chegou a seu fim".
"Esta aparente melhoria pode ser temporária e não devemos nos
apressar em afirmar que estamos saindo da crise", disse o
secretário-geral da Unctad, Supachai Panitchpakdi, ao apresentar o
relatório.
Este prevê que em 2009 o Produto Interno Bruto (PIB) mundial se
reduzirá mais de 2,5%, e inclusive as economias que crescerão, como
as da China e Índia, sofrem um arrefecimento.
E embora considere "possível" que o PIB mundial volte a ser
positivo em 2010, "dificilmente superará 1,6%".
"São muito poucas as possibilidades que nos próximos anos os
maiores países desenvolvidos se recuperem com a força necessária
para que a economia mundial volte a crescer ao ritmo de antes da
crise", afirmam os especialistas.
Isso se deve a que "não cabe esperar que o crescimento do consumo
nem do investimento se reative de maneira significativa, por causa
da muito baixa utilização da capacidade e do crescente desemprego".
A fim de deter a contração do PIB, "recomendamos manter e
inclusive reforçar as políticas monetárias e fiscais expansivas",
assinalou Panitchpakdi.
"Isso porque a queda de lucro na economia real, o excesso de
investimento no mercado imobiliário e o desemprego crescente
continuarão restringindo o consumo e o investimento privados em um
futuro previsível".
E como se trata de uma crise mundial, "também não existe a
possibilidade de recorrer às exportações, já que se prevê que o
comércio diminuirá em torno de 11%", diz o relatório.
Os especialistas acham que a alta dos indicadores financeiros na
primeira metade de 2009, refletem "um renovado interesse por assumir
riscos por parte dos agentes financeiros, e não um fortalecimento
dos parâmetros macroeconômicos fundamentais", por isso que -
advertem - "poderia acontecer uma mudança de tendência de um momento
para o outro".
O relatório destaca que a atual crise "não foi uma coisa caída do
céu", mas explodiu após vários anos de enormes desequilíbrios entre
as maiores economias nacionais e dentro de cada uma delas.
"Os desequilíbrios mais ostensivos eram os grandes déficits por
conta corrente dos EUA, Reino Unido, Espanha e várias economias da
Europa Oriental, por uma parte, e os grandes e crescentes superávits
da China, Japão, Alemanha e os países exportadores de petróleo, por
outra", assinala.
Nos EUA e nas demais economias em rápida expansão, o crescimento
era impulsionado por um consumo familiar financiado à base de
dívida, graças "à concessão de empréstimos irresponsáveis e a
formação de bolhas nos mercados de imóveis e de valores".
O que dá a esta crise uma profundidade extraordinária é, segundo
a Unctad, que "a desregulamentação financeira e a total inaptidão
das agências de qualificação creditícia elevaram o nível de
endividamento a cotas sem precedentes".
O relatório também critica que se tenha exagerado o risco de
inflação como consequência do aumento dos déficits orçamentários
pelos estímulos fiscais e pelas injeções de liquidez dos bancos
centrais
Agora, segundo Panitchpakdi, "o autêntico perigo é a deflação,
não a inflação. A deflação dos salários é a ameaça mais perigosa que
se abate sobre muitos países".
"O mais importante agora é quebrar a espiral descendente dos
salários, dos preços e da demanda, e reativar a capacidade do setor
financeiro para conceder crédito ao investimento produtivo a fim de
estimular um crescimento econômico real", acrescentou. EFE