BRASÍLIA (Reuters) - O ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou em depoimento à Polícia Federal que compartilhou sem querer e se atentar para o conteúdo um vídeo em uma de suas redes sociais, três dias após os atos violentos do 8 de janeiro, no qual um procurador de Estado do Mato Grosso do Sul em que fez ataques e usou informações falsas sobre as urnas eletrônicas.
Na íntegra obtida pela Reuters das declarações enviadas ao Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro disse que foi alertado da postagem e o removeu.
"Que este vídeo foi postado sem seu real interesse em publicá-lo; Que o declarante não tem o hábito de repostar vídeos de pessoas desconhecidas; Que foi alertado de que houve uma postagem em seu Facebook (NASDAQ:META); Que, ao perceber o erro, providenciou a retirada da postagem", afirmou ele.
A postagem, com informações falsas, narrava que Lula não teria sido eleito nas urnas, mas sim escolhido e eleito pelo STF e pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O ex-chefe do Executivo depôs por menos de 1 hora e meia na sede da PF em Brasília no inquérito que tramita perante o Supremo que investiga se ele estimulou ou teve participação indireta nos atos violentos. Na véspera, advogados dele já tinham antecipao em entrevista as linhas gerais da defesa apresentada por ele.
No depoimento, Bolsonaro disse ter tido uma obstrução intestinal em 8 de janeiro, dia dos ataques, e que após acionar o médico permaneceu internado até tarde da noite do dia 10. Citou que enquanto esteve internado "foi medicado com morfina" -- há um anexo de que teria sido administrado 2 mg da droga muito usada para aliviar dores.
O ex-presidente disse que, ao chegar em casa do hospital, visualizou o vídeo postado por uma pessoa que ele disse ser desconhecida e que se interessou em assisti-lo com mais cuidado posteriormente. Contudo, ele afirmou que, em vez de ter encaminhado a postagem para ver depois por WhatsApp, clicou por duas vezes e postou no Facebook. O vídeo ficou por horas no ar e depois foi removido.
Bolsonaro afirmou que não sabe se foi repostado por outras pessoas e não acompanhou qualquer comentário. Fez questão de ressaltar que, em relação ao conteúdo do vídeo, considera que a eleição de 2022 é uma "página virada em sua vida", não emitiu juízo de valor sobre a postagem e ainda que, se tivesse mesmo interesse de compartilhar o vídeo, teria feito em uma rede social dele de maior repercussão.
O ex-presidente disse que poderia prestar esclarecimentos posteriores sobre quaisquer outros fatos que tratem da questão eleitoral.
"Que, por fim, o declarante reitera que repudia e condena todo e qualquer ato que vise a abalar a ordem democrática e que durante os seus quatro anos de governo sempre atuou dentro das 'quatro linhas' da Constituição Federal", finalizou ele.
(Reportagem de Ricardo Brito. Edição de Flávia Marreiro)