Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira, em depoimento à Polícia Federal, que não tratou de qualquer plano ou ato preparatório para gravar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, em reunião que teve com o senador Marcos do Val (Podemos-ES) em dezembro do ano passado.
"Não foi levantado nenhum plano, nenhum ato preparatório, sequer de gravar o ministro Alexandre de Moraes", disse Bolsonaro ao ser questionado se foi discutido algum plano para gravar o presidente do TSE ou realizar algum ato antidemocrático no encontro realizado no Palácio da Alvorada com Marcos do Val e o ex-deputado Alexandre Silveira, em 8 de dezembro.
Segundo a transcrição das declarações de Bolsonaro à PF, vista pela Reuters, o ex-presidente garantiu que nada sobre o presidente do TSE foi tratado no encontro, e acrescentou que "sempre permaneceu dentro das quatro linhas do texto da Constituição Federal".
Bolsonaro foi convocado pela PF a dar explicações no inquérito que investiga uma suposta tentativa de trama golpista que estava sendo articulada pelo senador capixaba, que atualmente está licenciado por questões médicas. A intenção de Marcos do Val seria gravar ilegalmente Moraes, de acordo com as investigações.
Esse foi o quarto depoimento do ex-presidente à PF neste ano, o primeiro após ter se tornado inelegível por condenação por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Uma reportagem da revista Veja publicada em fevereiro apontou que Bolsonaro teria pedido ao parlamentar para gravar Moraes com o intuito de que o magistrado falasse algo comprometedor que levasse a uma tentativa de anular o resultado das eleições do ano passado, após a derrota do agora ex-presidente.
Posteriormente, Do Val disse que a ideia teria partido do ex-deputado federal Daniel Silveira, que também participou do encontro, e não de Bolsonaro.
O ex-presidente declarou ainda à PF que, após a reunião de 8 de dezembro, recebeu uma mensagem do senador por um aplicativo de conversas em que Do Val dizia que havia falado com Alexandre de Moraes que Bolsonaro não tinha feito nada de errado. Mas, segundo Marcos do Val relatou, Silveira estaria tentando convencê-lo a prosseguir na execução de algum plano.
Por essa razão, declarou Bolsonaro à PF, respondeu ao senador "coisa de maluco", porque não havia entendido a mensagem, segundo ele. O ex-presidente acrescentou ainda que acredita que a mensagem de Marcos do Val tinha por objetivo "mitigar o desgaste político" do senador em razão das "diversas versões contraditórias publicadas e veiculadas" sobre os fatos.
O depoimento realizado na sede da Polícia Federal em Brasília durou cerca de 30 minutos e, na saída, Bolsonaro e seus advogados deram uma entrevista coletiva na qual, de maneira geral, reafirmaram que o ex-chefe do Executivo não tinha qualquer envolvimento no caso.
Bolsonaro e advogados aproveitaram para criticar a manutenção da prisão do ex-ajudante de ordens do ex-presidente, o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid. Ele está preso desde maio por investigação do STF sobre fraudes em cartões de vacinação do ex-presidente e pessoas próximas, e na véspera compareceu à CPI mista do 8 de janeiro para prestar depoimento, mas não respondeu a perguntas dos parlamentares.
"Não justifica essa prisão em cima deles, não tem justificativa, é um ato contra o Estado Democrático do Direito", disse Bolsonaro sobre a prisão de Cid e outros ex-assessores dele.
(Edição de Pedro Fonseca)