Por Steve Holland e Vladimir Soldatkin
GENEBRA (Reuters) - O presidente norte-americano, Joe Biden, e o presidente russo, Vladimir Putin, concordaram nesta quarta-feira em realizar discussões sobre controle de armas e cibersegurança, registrando pequenos ganhos e grandes diferenças em uma primeira cúpula que ambos descreveram como mais pragmática do que amigável.
As discussões na Villa La Grane, à beira do lago em Genebra, duraram três horas - menos do que os assessores de Biden esperavam -, mas o presidente dos EUA disse que elas foram intensas e detalhadas e que não "não precisávamos passar mais tempo conversando".
Putin, de 68 anos, chamou Biden, de 78, de um parceiro construtivo e experiente e disse que eles falaram "a mesma língua", mas acrescentou que não houve amizade, mas um diálogo pragmático sobre os interesses dos dois países.
Biden afirmou que havia dito a Putin que "precisamos de algumas regras básicas que todos possamos seguir", acrescentando: "Eu fiz o que vim aqui fazer".
A organização de entrevistas coletivas separadas significou que não houve o entusiasmo da reunião de 2018, em Helsinque, entre Putin e o predecessor de Biden, Donald Trump, na qual Putin deu uma bola de futebol a Trump de presente. Também não houve uma refeição conjunta.
Em um comunicado conjunto emitido após as entrevistas coletivas, os dois lados disseram que a reunião mostrou que eles foram capazes de progredir em objetivos compartilhados mesmo em um momento de tensão.
Putin, o primeiro a falar com repórteres, afirmou que a reunião foi construtiva, sem hostilidades, e mostrou o desejo dos líderes de se entenderem.
Ele disse que era "difícil dizer" se as relações com os Estados Unidos melhorariam, mas que houve um "vislumbre de esperança" em relação a confiança mútua. Não houve convites para Washington ou Moscou.
Biden, falando brevemente na sequência, afirmou que "não há substituto para o diálogo cara a cara" e que ele havia dito a Putin que sua agenda não era "contra a Rússia", mas pelo "povo norte-americano".
ATAQUES CIBERNÉTICOS
Biden disse que eles passaram bastante tempo discutindo controle de armas e ataques cibernéticos, quando afirmou a Putin que "infraestrutura crucial está fora dos limites", entregando-lhe uma lista de 16 setores estratégicos.
Em talvez seu comentário mais forte, Biden afirmou que as consequências seriam "devastadoras" para a Rússia se o líder de oposição preso Alexei Navalny, que se recuperou de uma greve de fome para protestar contra as condições em que estava detido, morresse.
Os dois disseram que Moscou e Washington compartilham a responsabilidade pela estabilidade nuclear e que discutiriam possíveis mudanças no tratado de limitação de armas New Start, que foi recentemente prorrogado.
Putin mostrou pouco apetite para ceder em uma variedade de outros assuntos, rechaçando as preocupações de Washington em relação a Navalny, à presença militar maior da Rússia na fronteira com o leste da Ucrânia e à sugestão dos EUA de que russos não identificados foram responsáveis por uma série de ataques cibernéticos contra o país.
Putin afirmou que Navalny ignorou a lei e sabia o que aconteceria se voltasse à Rússia da Alemanha, onde ele recebeu tratamento após uma tentativa de matá-lo dentro da Rússia com veneno. Ele também acusou Kiev de violar os termos de um acordo de cessar-fogo com rebeldes pró-Russia no leste da Ucrânia.
O líder do Kremlin disse que a Rússia foi alvo de vários ataques cibernéticos com origem nos Estados Unidos.
Biden afirmou que mencionou assuntos de direitos humanos porque é do "DNA" do país fazê-lo e também abordou o futuro de cidadãos norte-americanos presos na Rússia. Putin disse acreditar que algum meio-termo poderia ser alcançado, embora não tenha dado indicativos de um acordo por troca de prisioneiros.
Questionado sobre a repressão à oposição política na Rússia, Putin disse que não queria motins na Rússia ou movimentos parecidos com o Black Lives Matter dos EUA. Biden classificou a comparação como "ridícula".
(Reportagem de Steve Holland e Vladimir Soldatkin; Reportagem adicional de Humeyra Pamuk e Stephanie Nebehay em Genebra, Tom Balmforth e Andrew Osborn em Moscou)