Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O apoio do PP ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passa pelo respaldo do novo governo à reeleição de Arthur Lira (PP-AL) à presidência da Câmara dos Deputados, disse o presidente em exercício do partido e deputado federal reeleito, Cláudio Cajado (BA).
O PP é um dos principais partidos da base de apoio ao governo do presidente Jair Bolsonaro, derrotado por Lula no segundo turno da eleição presidencial no domingo. Atualmente ocupa a pasta da Casa Civil com o senador e presidente licenciado da legenda, Ciro Nogueira (PI).
Lira apoiou e fez campanha para Bolsonaro nas eleições.
"A gente trabalha com essa vertente, manter o presidente Arthur Lira como presidente da Câmara, isso sempre foi colocado e é um direito que ele tem de continuar à frente da presidência e obviamente isso deve ser posto em qualquer tipo de conversa (de apoio ao governo Lula)", disse Cajado à Reuters.
O presidente do PP ressalvou que não está antecipando ou provocando qualquer tipo de acontecimento e que as conversas sobre o assunto devem ocorrer até a próxima semana.
Cajado afirmou que, para se iniciar um diálogo, é preciso haver um convite e uma manifestação de interesse do governo Lula em contar com o PP. Se isso ocorrer, deverá ser levado para avaliação das instâncias partidárias.
"Então, isso depende principalmente do governo eleito, do presidente Lula, que precisa se manifestar para que a gente através do partido, da Executiva, avalie e analise", afirmou ele, ao destacar que o PP é um "partido importante" e saiu das urnas no Congresso tendo eleito 47 deputados federais e uma bancada forte no Senado.
"Nós não sabemos se haverá ou não o convite de Lula para integrar o governo, de que forma isso se daria. Como não houve nenhuma manifestação ou fala", ponderou ele.
Após o primeiro turno da eleição, dirigentes do PP e do União Brasil iniciaram tratativas que devem levar à fusão das duas legendas, o que, se ocorrer, geraria o partido com mais parlamentares tanto na Câmara como no Senado, com potencial, inclusive, de ocupar as presidências das duas Casas.
ALTERNATIVAS
Uma fonte do União que acompanha todo o processo avaliou que ainda há muita água a passar debaixo da ponte nessas eleições da Mesa da Câmara, que promete ser bastante disputada. O jogo está apenas começando e a candidatura de Lira ao comando da Casa não é a única que já se desenha.
Há outros interessados no posto, caso do deputado e presidente nacional do União Brasil, Luciano Bivar (PE), que tem interlocução com parlamentares da esquerda, com o chamado centrinho --formado por partidos como o MDB e o PSDB-- e ainda contaria, segundo a fonte, com a simpatia do novo governo.
Neste cenário, o União Brasil, partido que formou uma bancada expressiva no Congresso e manteve-se oficialmente independente no segundo turno da corrida pelo Planalto, entra como um fiel da balança na correlação de forças no Congresso e Bivar, um nome de "conciliação".
De acordo com a fonte, o presidente do União já teria recebido sinalizações de que é encarado como um bom nome pelo novo governo.
CONVERSAS COMEÇAM AGORA
Do lado do PP, Cajado lembrou que o partido já compôs diversos governos desde as gestões petistas até Bolsonaro. A legenda já teve sob Lula e Dilma o comando do extinto Ministério das Cidades.
O dirigente também disse que não é possível saber se haveria algum tipo de veto sobre Lira e que as conversas começam agora com a volta dos trabalhos em Brasília.
No domingo, o presidente da Câmara parabenizou, sem citar nominalmente, Lula pela vitória na disputa em segundo turno pelo Palácio do Planalto, e afirmou que o resultado das eleições não deve ser questionado. Ele reafirmou a lisura do processo de manifestação da vontade popular, mas defendeu que não haja "revanchismos" ou "perseguições".
"Ao presidente eleito, a Câmara dos Deputados lhe dá os parabéns e reafirma o compromisso com o Brasil, sempre com muito debate, diálogo e transparência", disse.
A fala de Lira foi vista como uma tentativa de distensionamento das relações entre ele e Lula. Os dois tiveram embates durante a campanha eleitoral após o petista ter dito que, se eleito, pretende acabar com o orçamento secreto, forma de repasse de emendas parlamentares que dificulta a identificação do beneficiário, no que foi rebatido pelo presidente da Câmara.
As movimentações pelos postos de comando no Legislativo também já estão em andamento no Senado. Nesta segunda, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que Lula deve apoiar a reeleição de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) ao comando do Senado.
(Reportagem adicional de Maria Carolina Marcello)