Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - A menos de três semanas do fim do prazo para que ministros deixem os cargos para concorrer nas eleições, o presidente Jair Bolsonaro reunirá na quinta-feira sua equipe para definir substituições e também um calendário de programas a serem lançados que possam ajudar a impulsionar sua candidatura à reeleição e também as campanhas de seus aliados, disseram fontes com conhecimento do assunto.
De início, o presidente dizia que pelo menos 12 ministros sairiam para ser candidatos, mas esse número diminuiu. Hoje, Bolsonaro tem dito que oito deixarão o governo. Esse número pode chegar a nove se o ministro da Defesa, Walter Braga Neto, for o candidato a vice-presidente em sua chapa, o que, de acordo com uma das fontes, é uma grande possibilidade.
De acordo com essa fonte, que é próxima ao presidente, não há uma definição sobre o vice ainda, mas o nome do ministro da Defesa é o mais forte no momento. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, também cotada, já teria declarado sua intenção de concorrer ao Senado pelo Mato Grosso do Sul.
Ao mesmo tempo, Bolsonaro resiste a um nome político que não seja de sua absoluta confiança, segundo essa a fonte.
"É uma questão de segurança. O presidente não quer colocar alguém que seja do interesse da classe política tirá-lo e colocar essa pessoa", disse a fonte.
De todo o grupo que pretendia disputar as eleições deste ano, três ministros --Marcelo Queiroga (Saúde), Anderson Torres (Justiça) e Fábio Faria (Comunicações)-- desistiram de suas pretensões eleitorais.
No xadrez das candidaturas, Bolsonaro tenta colocar aliados em Estados-chave em candidaturas ao Senado ou ao governo do Estado que possam lhe dar palanque no pleito deste ano. Os ministros do Trabalho, Onyx Lorenzoni, e da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, já têm suas candidaturas acertadas aos governos do Rio Grande do Sul e São Paulo, ambos pelo PL.
João Roma, ministro da Cidadania, quer ser candidato ao governo da Bahia, mas enfrenta problemas com seu partido, o Republicanos, mais inclinado em manter a aliança com ACM Neto (DEM).
SENADO
Já para o Senado, hoje uma das maiores preocupações de Bolsonaro, o presidente tem garantidas as candidaturas de Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, no Rio Grande do Norte; Tereza Cristina, da Agricultura, no Mato Grosso do Sul; Flávia Arruda, da Secretaria de Governo, no Distrito Federal; e Gilson Machado, do Turismo, em Pernambuco.
Damares Alves, do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, ainda não anunciou seu destino, mas, de acordo a fonte ouvida pela Reuters, será candidata ao Senado pelo Amapá para concorrer contra Davi Alcolumbre (União Brasil) -- a quem Bolsonaro quer ver derrotado.
Depois de convencer Tarcísio de Freitas a encarar a candidatura ao governo de São Paulo, Bolsonaro desistiu de colocar o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles na disputa pela vaga de senador. Salles, um dos mais fieis interlocutores de Bolsonaro até hoje, será candidato a deputado, enquanto a vaga ao Senado será colocada na mesa em busca de alianças eleitorais.
Com um terço do Senado em jogo, Bolsonaro tem manifestado a preocupação há vários meses de tentar garantir os nomes mais fiéis possíveis na Casa para ampliar sua base. O presidente nunca teve apoio firme no Senado e, em meio à pandemia de Covid-19, passou a ter ainda mais dificuldades.
Bolsonaro culpa a Casa por não ter conseguido levar adiante projetos do governo e também pelo desgaste com a CPI da Covid, que o apontou como um dos principais responsáveis pelos números estratosféricos de vítimas da doença no país. Conseguir um Senado mais favorável em uma eventual reeleição passou a ser uma de suas principais metas este ano.
Na briga pelo Senado, Bolsonaro teria mais um nome aliado, o vice-presidente Hamilton Mourão, que se filiou ao Republicanos e conta com apoio do presidente para ser candidato no Rio Grande do Sul. No entanto, de acordo com a fonte ouvida pela Reuters, não há entusiasmo de Bolsonaro pela candidatura de seu vice, com quem viveu em conflito por boa parte do governo.
Na reunião ministerial de quinta-feira, a pauta será a substituição dos ministros-candidatos, que têm até o dia 2 de abril para deixar o governo, e medidas que poderão ser anunciadas antes do período eleitoral para ajudar a melhorar as chances eleitorais dos ministros e do próprio Bolsonaro.
De acordo com fontes ouvidas pela Reuters, uma dessas medidas já será anunciada na mesma quinta-feira: um grande pacote que pretende injetar 165 bilhões de reais na economia, vindo do Ministério do Trabalho sob a forma do Programa de Renda e Oportunidade (PRO).
Outra medida será a antecipação do pagamento do 13º de pensionistas do INSS, que deve acontecer entre abril e junho, em vez de julho e dezembro, e chega a 55 bilhões.
Além disso o governo pretende criar um programa de microcrédito simplificado e ampliar o limite de endividamento para permitir que mais pessoas peguem empréstimos consignados.
Fontes ouvidas pela Reuters explicaram que a reunião servirá para levantar programas que já estão maduros e acertar os eventos que devem ser feitos até o início de abril.