Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) embarcou em navio da Marinha que participou de romaria fluvial do Círio de Nazaré neste sábado, mas a Arquidiocese de Belém nega, em nota, ter feito convite a qualquer autoridade e diz não desejar o uso político ou partidário dos festejos religiosos.
Bolsonaro, que se declara católico, mas tem desempenho inferior a seu adversário -- o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) -- nesse nicho do eleitorado, embarcou na corveta da Marinha Garnier Sampaio, que carregava a imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré na romaria fluvial.
"Comunicamos não ter havido nenhum convite da parte da Arquidiocese de Belém, nem da diretoria da Festa de Nazaré, a qualquer autoridade seja em nível municipal, estadual ou federal. Entretanto reconhecemos ser responsabilidade da Marinha do Brasil o acesso à referida embarcação", diz a arquidiocese, na nota.
"Temos o dever de observar a plena liberdade de qualquer cidadão ou cidadã de participar dos eventos do Círio de Nazaré. Todavia, não desejamos e nem permitimos qualquer utilização de caráter político ou partidário das atividades do Círio", acrescenta a entidade.
O Círio é uma manifestação religiosa reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial pelo Iphan e declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO e é realizada há mais de 200 anos em Belém, a partir do achado de imagem da Nossa Senhora de Nazaré. As festas tradicionalmente ocorrem durante outubro e envolvem, mais de 10 procissões, incluindo a romaria fluvial.
Bolsonaro lidera as intenções de voto entre os evangélicos, na esteira de bandeiras conservadoras e da chamada pauta de costumes. Lula, que tem maioria entre os eleitores católicos, tem sido pressionado para fazer um gesto aos evangélicos, importante parcela do eleitorado brasileiro.
Mesmo assim, o petista tem resistido comparecer a grandes eventos de qualquer matiz religiosa e tem declarado que não se mistura política com religião.
Lula tem relutado até mesmo em relação a articulação de aliados para que divulgue uma carta aos evangélicos defendendo princípios cristãos. Há, na campanha, quem aposte que um documento do tipo venha a público nos próximos dias. O ex-presidente já concordou em gravar, por exemplo, inserção de propaganda eleitoral em que diz ser contra o aborto, pauta cara ao setor evangélico e aos religiosos em geral.