Por Maria Carolina Marcello e Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - A Câmara dos Deputados iniciou nesta quarta-feira a votação para eleger seu comando pelos próximos dois anos, vai chancelar, com uma expressiva vantagem de votos, o deputado Arthur Lira (PP-AL) como o presidente da Casa por mais 2 anos.
Uma das principais lideranças do centrão, empresário, advogado e pecuarista, Lira concorre ao posto contra candidaturas pouco competitivas, colocadas de forma a marcar posições: a do deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), e a de Marcel Van Hattem (Novo-RS).
Aliados de Lira chegam a falar em mais de 400 votos a favor do deputado, que conseguiu reunir em torno de sua candidatura desde bolsonaristas raiz até petistas de carteirinha.
Procurada pela Reuters, a Arko Advice estima que Lira angarie entre 307 e 340 votos. Para ser eleito no primeiro turno, um candidato precisa do voto de pelo menos 257 dos 513 deputados.
OUTRA RELAÇÃO
Em seu discurso para defender sua candidatura à reeleição, o presidente da Câmara fez um balanço da atuação anterior, com ênfase nas propostas aprovadas e os trabalhos da Câmara durante a pandemia. Aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro até as eleições, ele disse que terá outro tipo de relação com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Se eleito, quero estabelecer com o Poder Executivo não uma relação de subordinação, mas de um pacto para aprimorar e avançar nas políticas públicas a partir da escuta cuidadosa de opinião e sugestão das nossas comissões", disse.
"Inclusive faço a defesa firme do nosso direito sagrado à liberdade de expressão desde que isso não represente uma ameaça ao único regime que nos concede esse direito que é a nossa democracia", reforçou ele.
Lira afirmou que vai continuar a fazer um "atendimento sem intermediários" dos parlamentares e disse que é preciso avançar mais porque o Brasil tem pressa, citando a necessidade de discutir uma reforma tributária.
APOIOS
Para analistas, a confirmação da eleição de Lira é, além de resultado de sua capacidade de articulação, fruto de movimento estratégico do governo, que não apresentou oponente e manifestou-se abertamente favorável a sua postulação, e do PT, que ainda no ano passado declarou apoio formal a sua recondução à presidência da Câmara.
Esse movimento se deu também em função da necessidade, de Lula, mesmo antes de assumir a Presidência da República, precisar recorrer ao apoio de Lira para aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que abriu espaço fiscal para, entre outras coisas, garantir o pagamento de 600 reais do Bolsa Família.
Além de definir a pauta de votações e coordenar a distribuição de postos e relatorias, é o presidente da Câmara quem pode acatar ou rejeitar o recebimento de denúncias e pedidos de impeachment contra o chefe do Executivo.
Aliado de Bolsonaro no governo anterior, Lira recusou-se a analisar mais de 100 pedidos de impeachment oferecidos ao então presidente.
O presidente da Câmara também integra a linha sucessória da Presidência da República, depois do vice-presidente da República.
Apesar da proximidade com Bolsonaro, Lira foi uma das primeiras autoridades a reconhecer o resultado das eleições gerais em outubro do ano passado que conferiram a vitória a Lula, no cenário dos sistemáticos ataques do ex-presidente ao processo eleitoral e às urnas eletrônicas.