Por Leonardo Benassatto e Diego Nigro
PAULISTA, Pernambuco (Reuters) - O corpo do indigenista Bruno Pereira, assassinado este mês enquanto investigava ameaças a povos isoladas da Amazônia, foi velado nesta sexta-feira em seu Estado natal de Pernambuco, com uma despedida tradicional indígena antes da cremação.
Pereira, de 41 anos, pai de três filhos, foi cremado após um funeral ao qual compareceram sua família e indígenas que prestaram homenagem ao homem que passou sua carreira estudando e defendendo os povos originários.
Cerca de doze homens e mulheres indígenas do povo Xukuru disseram adeus a Pereira com música e dança, enquanto uma foto dele descansava em cima de seu caixão, coberto com bandeiras de Pernambuco e do clube de futebol Sport Recife.
“Viemos honrar nosso guerreiro, o guerreiro Bruno, que hoje se torna um mártir para todos nós, para a causa indígena”, disse Marcos Luidson, líder da comunidade Xukuru em Pernambuco.
Pereira começou a trabalhar na agência indígena Funai em 2010 no Vale do Javari, uma área remota que abriga a maior concentração de povos isolados do mundo.
Foi lá que Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips foram assassinados no começo deste mês enquanto estudavam as tentativas das povos indígenas de se defenderem contra caçadores, garimpeiros, madeireiros e pescadores ilegais.
Pereira foi colocado em licença pela Funai em 2019, após trabalhar com a Polícia Federal em uma operação que destruiu 60 barcos usados por garimpeiros. Anteriormente naquele ano, o presidente Jair Bolsonaro havia criticado policiais por destruírem equipamentos confiscados de garimpeiros e madeireiros ilegais.
A retirada de Pereira do seu cargo de coordenador na Funai fez parte de uma onda de cortes de funcionários e orçamentos da agência após Bolsonaro chegar ao poder em 2019.
Pereira posteriormente ajudou grupos indígenas a patrulharem o Vale do Javari contra atividades ilegais de invasores, um trabalho perigoso que o fez receber várias ameaças.
Assassinatos de defensores de terras indígenas pularam para 10 tanto em 2019 quanto em 2020, em comparação com cinco nos dois anos anteriores combinados, segundo o grupo de direitos humanos Global Witness.
No funeral, o líder Xukuru Luidson pediu responsabilização por Pereira, Phillips e todos os defensores dos indígenas que foram mortos.
“Quantos outros líderes foram mortos? Quantos guerreiros temos que foram assassinados em torno da luta por território sem visibilidade?... Muitos outros”, disse Luidson.
(Reportagem adicional de Jake Spring e Anthony Boadle)